Paz, amor e gasolina

Há três anos, o americano Dave Panton comprou uma Kombi 1972 para viajar o mundo. Não parou desde então

por Felipe Maia em

Foi no site de vendas Ebay que o americano Dave Panton encontrou sua companheira dos últimos três anos: uma kombi alemão fabricada em 1972. O ex-militar da Marinha batizou o veículo de Darma e virou viajante em tempo integral. Partiu de San Diego, na Califórnia, e já ticou do mapa México, Panamá, Colômbia, Galápagos, Peru, Bolívia, Argentina e Brasil, onde encontrou com a Trip. Seu objetivo? “Só quero ver o quão longe consigo ir”, explica o americano de 33 anos, que já percorreu cerca de 50 mil quilômetros.

A começar pelo comprimento do cabelo e da barba, Dave não lembra em nada o cara que dedicou 11 anos de sua vida às Forças Armadas de seu país. Do emprego, ele carrega apenas os salários. “Meu trabalho pagava tão bem que você teria de ser um pouco louco para deixá-lo.” A grana acumulada, somada a alguns bicos pelo caminho e à economia com hospedagem, bancou a viagem até o momento. “Nada foi muito planejado.”

A prancha de surf vai dentro da Kombi junto com tudo o que Dave precisa. “Tenho até um banheiro portátil”, conta ao fazer um tour em seu domícilio. Nele há chuveiro, cama, botijão de gás, forno e espaço roupas e alimentos. Dave não carrega muita comida para evitar insetos e outros animais. Sua dieta inclui frutas, sucos, ovos, atum e... pipoca. “Gosto muito de mate! Aprendi com os argentinos”, complementa. Darma tem uma placa de células fotovoltaicas na parte de cima. Com isso, nunca falta energia elétrica na “casa”. Isso permite que ele carregue seu iPad e se conecte a internet.

Por aqui, ele não ficou muito tempo. “Não me sinto uma pessoa em São Paulo: me sinto como algo que tem de ser desviado”, lamenta. Chamou sua atenção a desigualdade que observou nas ruas – segundo ele, comparável somente a Dubai, a opulenta metrópole dos Emirados Arábes Unidos por onde passou. “Nunca vi tantos bairros pobres ao lado de shoppings onde as mulheres entram com seus cachorrinhos”, diz.

Pelas contas de Dave, seu caixa fica vazio em breve, quando chegar ao Rio de Janeiro, onde quer passar o Carnaval. Lá, ele pretende arranjar um emprego para continuar sua jornada em direção ao Caribe e, depois, à Europa. Sua meta é seguir para o Reino Unido, onde quer estudar engenharia naval. “Seria muito legal se eu pudesse construir um barco”, diz.

Dave não quer ficar rico nem famoso com seu feito. Seu objetivo é apenas viver o caminho que escolheu para si. “Há pessoas que não estão dispostas a fazer uma viagem dessas, mas há pessoas, como eu, que não estão dispostas a não fazer uma viagem dessas”, sentencia o filósofo de Darma.

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