Paulistano de fibra

Os esportivos de ar italiano da Adamo sacudiram o marasmo da indústria automobilística nos anos 60 e 70

por Luiz Guedes em

Os esportivos de ar italiano da Adamo foram parte de um fenômeno que sacudiu o marasmo da indústria automobilística local nos anos 60 e 70: os fora de série, carros artesanais de design exclusivo.

indústria automobilística brasileira viveu anos opacos entre meados dos anos 1960 e a era Collor: a estagnação tecnológica e a proibição das importações impediam o avanço do design de carros. Quem salvou a pátria, literalmente, foram os criativos empresários e designers paulistanos por trás dos chamados “fora de série”: a exemplo do Puma, o mais famoso deles, carros produzidos em pequena escala, e de forma quase artesanal, totalmente à margem das grandes corporações estrangeiras.

É nesse grupo que se encaixa a marca Adamo (lê-se Adâmo), surgida em 1971 num discreto galpão de 560 metros quadrados na avenida Mascote, zona sul da capital paulista. Seu criador, Milton Adamo, já projetava e produzia no local móveis de poliéster, uma espécie de plástico reforçado com fibra de vidro que moldaria a carroceria de todos os fora de série nacionais. “Fui visitar um fornecedor e descobri que ele também atendia o pessoal que estava desenvolvendo o Puma”, conta Milton, hoje com 79 anos de idade. “Comentei com meu pai e resolvemos usar nosso know-how para entrar no mercado de automóveis esportivos.”

Fazer um carro de forma artesanal, porém, não era tão simples como parecia. “A maior dificuldade, por incrível que pareça, era fazer as portas”, conta o projetista. “Por isso, nosso primeiro protótipo, apresentado no Salão do Automóvel de 1968, acabou lançado apenas em 1971, como um misto de bugue e esportivo do asfalto, sem portas.”

Motor de Fusca

Um ano mais tarde chegava às ruas o cupê fechado com ares de esportivo italiano e cheio de luxos internos que marcariam a linhagem de modelos com a marca Adamo. “Nosso forte era o design exclusivo e a qualidade no acabamento da fibra, conseguida graças à experiência anterior com mobiliário”, diz Milton. “Além disso, nossos carros ofereciam sofisticações tecnológicas inexistentes nos modelos das grandes montadoras, como vidro elétrico e painel revestido de couro e isqueiro.”

Ainda assim, era preciso muita criatividade para “disfarçar” o uso de faróis, lanternas e vidros originários dos carros de linha. “Era caríssimo produzir versões exclusivas desses, por isso tínhamos de usar o que havia no mercado. Isso também valia para a mecânica”, afirma.

Crédito: Divulgação
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