Partido do retweet
Na internet, os jovens criaram formas de relacionamento e mobilização inovadoras
Considero muito superficiais as análises sobre a apatia política das novas gerações. É comum ouvir histórias sobre o bravo período de resistência à ditadura militar, as ações fortes dos jovens sindicalistas do ABC por melhorias nas condições de trabalho e renda e até lembrar das grandes passeatas do “Fora Collor” para imediatamente condenar a juventude atual ao papel de geração alienada no que diz respeito à luta por um mundo melhor.
Todos os movimentos citados e tantos outros de luta por justiça, igualdade e democracia foram ações de minorias que corajosamente desafiavam os sistemas e se espalharam aos poucos por outros segmentos da sociedade. Muitas lutas demoraram anos para conseguir despertar a maioria do país para as suas causas e custaram muito caro a todos que se envolveram.
Creio que vivemos um momento de transformação radical no estilo de participação política, e essa mudança está totalmente relacionada com as novas gerações. Foram os jovens de hoje que, mergulhados nas maravilhas da internet, criaram formas de relacionamento e mobilização totalmente inovadoras que podem a qualquer momento se transformar em ferramentas muito poderosas de transformação. As redes sociais já cumprem papel fundamental em novos negócios, no mundo publicitário e no universo cultural. Nos Estados Unidos, onde o nível de inclusão digital é muito expressivo, contribuíram decisivamente até para a eleição do presidente Obama.
O jovem brasileiro tem uma familiaridade natural com esse universo.
Nas principais redes, estamos listados como grandes usuários e nossas lan houses e projetos públicos de inclusão digital – que agora começam a pautar a agenda dos governos – estão aumentando consideravelmente o número de usuários em relação à nossa população total. Resta, portanto, cruzarmos essa realidade com a capacidade de uso dessa poderosa ferramenta para começarmos a calcular qual é a verdadeira força política das novas gerações.
Delete Sarney
Por enquanto, os abaixo-assinados online tiveram resultados tímidos.
Apenas quando conduzidos por movimentos já estruturados da sociedade conseguiram algum êxito e ainda estamos pagando micos como o do “Fora Sarney” do Facebook, que não mobilizou ninguém.
O dia em que a galera parar de negar a política, deixar de lado as reclamações e começar a usar essa ferramenta que conhece melhor do que ninguém para buscar transformações efetivas, o bicho vai pegar. Neste ano teremos muitas questões fundamentais sendo debatidas no Congresso Nacional e, em 2012, teremos as eleições municipais. A geração online pode influenciar muito.
Que tal estabelecermos que estamos vivendo o ano-limite para começarmos a teclar por mudanças? A internet e as redes sociais podem ser a versão mais moderna, democrática e eficaz dos comícios, das passeatas e das greves de ontem.
Feliz 2011 com paz, saúde e a consciência da força do nosso RT.
* Alê Youssef, 36, é sócio do Studio SP e um dos fundadores do site Overmundo. Foi coordenador de Juventude da Prefeitura de SP (2001-04). Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br. Seu Twitter é @aleyoussef