Palestras

por Luiz Alberto Mendes em

 

Vou, dia 05 de março, fazer um bate papo na Penitenciária feminina de Salvador. Isso me fez pensar muito sobre o que dizer para as mulheres aprisionadas. Gosto delas e sempre que estive em instituições como esta, sai com a alma lavada. Digo sempre que as pessoas presas são os melhores alunos que se poderia ter, e que as mulheres, em particular, são melhores ainda. Não vou nem preparar nada, vou deixar fluir espontaneamente lá de dentro do coração. Quero atingir o máximo de minha emotividade e doar-me a elas em palavras, expressões e olhares. Há tempos não sou convidado para algo assim. E estou ansioso para que chegue logo, estou cheio, transbordando, de amor para dar.

Venho falando há mais de 10 anos em muitos lugares: prisões, universidades, escolas, empresas, associações de bairros, livrarias, defensorias e até promotorias públicas. Aprendi muito nesse tempo, principalmente a me tranquilizar, dizer e ouvir as pessoas. Não falo água com açúcar, às vezes é pesado, enfio idéias ouvidos adentro. Brinco, falo sério, faço rir e chorar. O que sei é que as pessoas gostam, nunca fui reprovado, nem em promotorias públicas. Não programo, vai sempre o que a alma esta impregnada e, de alguma forma, a platéia dirige. A parte que mais me satisfaço é quando, depois de me situar, abro para perguntas e parto para respostas. A interação com quem assiste é uma delícia, tira de dentro de mim o melhor que possuo para dizer.

De tempos a essa parte, talvez seja a idade, a vivência, começo a desenvolver uma olhar carinhoso para com as pessoas. Uma vontade enorme de compartilhar e envolver as pessoas com o melhor de mim. A compreensão de suas dores, alegrias e motivos me emocionam demais. O drama humano me faz melhor, me enche a alma de afeto e esperanças pelos outros. Percebo que além daquela carapaça de auto-defesa há sempre alguém que precisa se comunicar, se relacionar e se dar aos outros. A carência emocional é enorme e tudo o que desejo é ser um igual, alguém com o qual os outros podem contar. Acho que vou conseguir me tornar o que sempre quis: ser um velhinho que possui uma boa palavra e um afago a cada um que a mim vier. Ainda vou aprender a falar e escrever as melhores palavras, aquelas que irão direto ao coração das pessoas. Defenderei as melhores causas com serenidade, humildade e com uma lógica imbatível. Sei que ainda sou tosco, cheio de rebarbas e pontas aguçadas, mas agora já percebo sinais de que estou começando a ultrapassar essa rudeza e aspereza.

Viajei para várias capitais e cidades do país, falando. Conquistei várias amizades e afetos. Hoje sei que um sujeito metido a escritor como eu, também tem o compromisso de falar ao nível do que escreve. É um bocado mais difícil porque escrever é elaborar, parar, pensar e escolher as melhores palavras e idéias. É possível falsear, até expressar o que não somos e nem pensamos. Falar é espontâneo e já me senti sufocado muitas vezes por não conseguir expressar meus melhores sentimentos e pensamentos. Faltava tranquilidade, faltava segurança e engolfa tudo na garganta. Talvez me faltasse até convicção do que estava dizendo. Mas aos poucos fui entendendo uma idéia que aprendi e colocando em prática: "a boca fala do que o coração esta cheio". É preciso encher o coração do que há de melhor, construir uma alma generosa, vasta e soltar o verbo com tranquilidade. Por isso não vejo a hora de conversar com aquelas sofridas meninas aprisionadas.

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Luiz Mendes

10/02/2015.

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