Orgulho da pátria
Arthur Verissimo é condecorado pelo exército brasileiro e se torna um soldado da notícia
Arthur já bateu ponto na Índia, se engraçou com índios na Amazônia, bebeu o próprio xixi e encarou Yakuza, Ted Boy Marino, Clóvis Bornay e o palhaço Carequinha (não nessa ordem). Finalmente foi reconhecido. Acredite: nosso repórter excepcional foi condecorado pelko exército brasileiro e se tornou um "soldado da notícia".
Convocação de general não se discute. No último dia 25 de agosto, Dia do Soldado, atendi a um gentil convite do comandante militar do sudeste, general Antonio Gabriel Esper. Eu estaria entre os agraciados com o diploma de colaborador emérito por conta de meus "relevantes serviços prestados ao exército brasileiro". Atendendo ao chamado da pátria, lá fui eu. A cerimônia foi em uma chuvosa manhã paulistana. Cantamos o Hino Nacional, o Hino a Caxias, o Hino do Soldado e ainda a canção da FEB, Força Expedicionária Brasileira. Em seguida a tropa marchou solenemente diante de nós e das autoridades presentes, cheia de moral. Recebi então o diploma das mãos do próprio general Esper, que agradeceu nossos serviços e comentou, em reservado, que o exército iria me convocar para outros eventos.
Tão emocionante quanto receber a honraria foi me ver no mesmo ambiente que gente como um certo senhor, que avistei por ali, com um capacete de ex-combatente de 1932. Do alto de seus 95 anos de disciplina, bravura e sabedoria, o capitão Gino Struffaldi aproximou-se. Presidente da Sociedade dos Veteranos de 32, capitão Gino me diz ao pé do ouvido: "Esta honraria o torna um soldado da notícia". Ganhei o dia.
No palanque principal, eu fazia parte de um grupo seleto de pessoas da mídia. Ao meu lado estavam nomes como Luciano Faccioli e Percival de Souza (Record), Rogério Simões (RedeTV!), Carlos Nascimento (SBT) e Ana Paula Padrão (Record). Após a solenidade, na hora do tira-gosto, em meio a bandejas cobertas de salgadinhos e acepipes, encontro Marcelo Tas, também homenageado. Seu sorriso maroto é enquadrado por muitas fãs da massa verde-oliva, e nossa conversa é deliciosa. "Vivemos um período de grandes transformações. Estamos na era de Aquarius, não existe nenhuma dúvida", manda o homem do CQC. "Quem diria que um dia receberíamos uma honraria desta magnitude do exército brasileiro, Arthur?" Chegamos à conclusão de que o general Esper está bem assessorado e sintonizado. Demos boas gargalhadas ao nos dar conta de que raramente recebemos convites para algum evento de música ou do chamado mundo fashion. Pensávamos que éramos alternativos e acabamos descobrindo que somos da caserna.
Momento cultural
É válido ressaltar: o Dia do Soldado foi instituído em homenagem a Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. O homem nasceu em 25 de agosto de 1803 e participou da Guerra Cisplatina (1825-1828) como capitão. Em 1839 participou da Revolução Farroupilha no Sul e das Balaiadas no Nordeste. Na Guerra do Paraguai (1864-1870) comandou as tropas aliadas e diante do perigo, sob fogo inimigo, lançou um grito de guerra que se tornaria famoso: "Sigam-me os que forem brasileiros". No dia 7 de maio de 1880, Duque de Caxias, patrono do exército brasileiro, faleceu.
No dia da condecoração, Marcelo Tas e eu brincamos: “Pensávamos que éramos alternativos e descobrimos que somos da caserna”
Como fui parar ali
A semente da condecoração começou a nascer no fim do ano passado, quando recebi um convite para dar uma palestra no Comando Militar do Sudeste, no evento II Estágio de Comunicação Social – Conheça o seu Exército. Fiquei aturdido. O que iria eu proferir? Eu estava em meio a um grupo de civis, todos convidados para falar de temas relacionados com o seu trabalho, a maioria publicitários e figuras notórias da mídia. Meu contato era a capitã Marília Villas-Boas. Ela enfatizou que, nas Forças Armadas, eu tinha leitores e apreciadores das minhas reportagens televisivas. Aceitei o convite de pronto e orgulhoso preparei uma palestra abrangente, denominada Jornalismo sem Fronteiras.
Levei para a apresentação uma artilharia de fotos e vídeos que ilustraram por uma hora e meia minhas aventuras pelo Brasil e ao redor do mundo. A plateia era composta de oficiais de diversas patentes e alunos de jornalismo, e o resultado foi além das minhas expectativas. Minha inquietação inicial dissipou-se logo no início com os sorrisos e o alto-astral no ambiente e, no intervalo, fui metralhado por perguntas inteligentes e bem-humoradas. Queriam saber das viagens pela Índia, das dietas com xamãs, da Papua-Nova Guiné, do vodu no Haiti, do festival do Fallus Cor-de-rosa no Japão, de meu encontro com o médium João de Deus e de minhas experiências pela Amazônia. Ao final, fiquei emocionado com a fila de militares querendo ser fotografados com este escriba.
"Os militares queriam tirar fotos comigo e saber de dietas com xamãs, vodu no Haiti e do festival do fallus cor-de-rosa no Japão"
De cara na lama
De volta ao dia da condecoração, fui convocado na despedida pela simpaticíssima capitã Marília Villas Boas, mas dessa vez para conhecer as instalações do centro de treinamento do grupo Bandeirante, em Barueri, na Grande São Paulo. Mais do que isso: iria sentir na pele como é o duro treinamento de um recruta.
Na semana seguinte lá estava eu executando os tais treinamentos. Foi um deus nos acuda. Vestindo uniforme camuflado e coturno, ultrapassei obstáculos cascudos e exercitei minha habilidade de perdigueiro. Passei por túneis, valas alagadas de lama, pontes, arames farpados, muro de assalto, "passeio do jacaré", rastejo alto e outras guloseimas mais.
Agora, para uma próxima etapa, a ideia é visitar as guarnições mais isoladas, lotadas nas fronteiras do Brasil. Lá poderemos acompanhar os treinamentos do Cigs, Centro de Instruções de Guerra na Selva. Tá preparado? Então vem comigo.