Adeus, peregrino!
Surfista, jornalista, empresário pioneiro do surfwear brasileiro, Sidão Tenucci foi uma figura fundamental da cultura de praia nacional
Na última terça-feira (6 de outubro), o surf brasileiro perdeu um personagem importante de sua história: Sidney Tenucci, que faleceu aos 61 anos, vítima de um melanoma no cérebro. Sidão, como era mais conhecido, dedicou sua vida ao esporte.
Trip lamenta profundamente a perda do amigo, que frequentou nossas páginas como colaborador, anunciante e, também, personagem. Como jornalista, Sidão assinou reportagens históricas, como as Páginas Negras do lendário Frank da Guarda, em 1987, ou quando acompanhou a aventura dos navegadores Betão Padiani e Gui Von Schmidt pela Rota Austral.
Percorreu mais de 50 países atrás de ondas, o que lhe valeu a alcunha de “peregrino”. “Sidão foi um aventureiro pioneiro, como surfista e como empresário. Quando para a maioria dos poucos surfistas da época ir para Maresias significava uma aventura, ele já se jogava na Indonésia, acampava em Fiji e explorava o Sri Lanka atrás de ondas inéditas”, conta Carlos Sarli, diretor superintendente da Trip.
Sidão esteve à frente da Ocean Pacific, a maior marca nacional de surfwear. A OP, fundada em 1978, dominou o mercado nos anos 80 e 90 (quem nunca teve ao menos uma carteira da OP?). Através da marca, patrocinou campeonatos importantes do circuito do surf brasileiro, como o OP Pro, que ajudou a profissionalizar o esporte.
Como escritor, publicou três livros inspirados pelo esporte: o primeiro, Almanquatica, é fruto da parceria com o fotógrafo Klaus Mitteldorf e o designer gráfico David Carson. O segundo, O surfista peregrino, um romance com tempero autobiográfico (com versão acessível a deficientes visuais), e o último, Poentes de amor, uma coletânea de 70 poemas ilustrados por 55 artistas plásticos.
“Ele era um amante apaixonado pelo surf, no trabalho deu um jeito de ficar perto da praia. E em pouco tempo a sua OP, Ocean Pacific, se tornaria a maior empresa de surfwear do país. Companhia sempre agradável, de repertório eclético, Sidão deixará saudade”, completa Sarli.
Paulo Lima, editor da Trip, faz uma homenagem ao amigo:
“O desafio de selecionar uma lista das melhores lembranças que guardo do Sidão é algo impossível de cumprir. Da imagem dele passando a mil com seu Opalão pelas ruas de São Paulo, sem camisa e com a cabeleira soprada pelo vento, ainda nos anos 70, às conversas sobre jornalismo, viagens (todas) e literatura. Daquelas noites quase mágicas em Floripa durante os primeiros OP Pro aos fins de semana em Maresias tentando entender o mercado, a vida, as mulheres, as estrelas e o swell que entrava... muita coisa boa vivida e compartilhada. Conversas que invariavelmente extrapolavam o bate-papo corriqueiro e avançavam explorando as entranhas de cada um dos cérebros envolvidos... finais de tarde na água salgada, almoços demorados e deliciosos. As conversas engraçadas com o 'seu Sidney', o galanteador pai da figura. Muita coisa mesmo... Sidão foi um amigo querido e que soube vestir a vida como poucos, e não vai aí nenhuma intenção de fazer trocadilho barato com seu sucesso sem par como designer e produtor de moda. Mas não posso deixar de registrar aqui algo de que nunca vou esquecer e que é de capital importância para mim e para todos que fizeram e fazem parte do barco da Trip: Sidão Tenucci Junior foi a primeira pessoa que realmente acreditou num projeto que, naqueles já distantes anos 80, parecia para a grande maioria algo completamente deslocado da realidade e do contexto da época: criar um ambiente editorial com a pretensão de desvendar os mistérios do comportamento humano? Juntar surf com política, sexo e filosofia? Misturar música com física quântica? Indonésia com Capão Redondo? Sidão sacou tudo de primeira e já entrou no nosso barco ajudando a remar, quando ainda mal começávamos a navegar... e, de uma forma ou de outra, como anunciante, conselheiro, repórter, editor e personagem, nunca saiu dele. E nunca sairá!”
No vídeo abaixo, um registro da passagem de Sidão no Trip FM, acompanhado do cartunista Caco Galhardo: