O Show de Caetano Veloso

por Luiz Alberto Mendes em

Caetano - Abraçaços

 

Hoje esta fazendo 10 dias e eu ainda não consegui transformar em palavras o que vivi em Salvador/BA. Fui para lá contratado para compor uma mesa de bate-papo que homenageava 20 anos de defensoria pública, ao tempo em que iniciava a campanha: "Pelo direito ao recomeço". Disso conversaremos posteriormente, queria agora, exatamente agora, falar sobre o que mais me emocionou nessa viagem.

Fui levado pelo Saulo, um amigo de Salvador, ao show "Abraçaços" de Caetano Veloso, na Concha Acústica, atrás do Teatro Castro Alves. As filas eram imensas. É realmente uma concha acústica, tipo estádio de futebol, em volta do palco. Fiquei olhando o povo chegando. E foi fluindo e chegando gente, parecia uma cobra gorda que se arrastava. Quando percebi todos os espaços estavam tomados e ainda um rio de gente estava entrando. E então começou a apresentação dos créditos do show e a banda foi tomando conta dos instrumentos.

O povo como que parou de falar, acho que muitos, como eu, paramos até de respirar. E lá vem entrando o cara. A gente espera um velhinho, afinal ele tem 70 anos de idade, mas que nada, lá vem o Brasil descendo a ladeira... Assim alto, ainda magro, cabelos longos prateados, óculos, moreno, lá vem o mano Caetano. E vinha sorrindo, vinha dançando, devia esta feliz porque vinha cantando...

Nossa! Como aquela gente ama aquele homem... Só vendo para ter noção do quanto. Mesmo que eu já não tivesse meus motivos de fã ardoroso dos filhos de Dona Canô há décadas, seria impossível estar ali e não ser contagiado por tamanha demonstração de amor. Ele foi atingido por toda aquela emoção e quase flutuou, ficou olhando para todos nós no alto, assim maravilhado... Foi então que todos percebemos que ele estava cantando e a banda tocando a todo vapor. Todos gritavam, inclusive eu, aplaudiam, era louco e era tão absoluto que nada mais se poderia ouvir. Ele estava celebrando com sua gente, sua reserva pessoal de amor.

Eu me vi em transe, em lágrimas, dançando, pulando, cantando, gritando, aplaudindo, em tudo. Boa parte das músicas eram novas, de seu novo CD "Abraçaços". Não as conhecia e não pude curtir muito, como o povo que sabia todas as letras e cantava com ele. Eu dançava, embalado pela banda. Mas algumas, nossa! Acabei com todo resquício de estresse, ri muito, saudei, brinquei, virei criança, sei lá como me comportei direito. Não houve reclamações porque mesmo curtindo a fundo eu ainda era, de longe, o mais bem comportado. Caso as arquibancadas não fossem de concreto aquilo viria abaixo, com certeza.

Ao final, Ele repetiu mais uma música conhecida que cantamos todos juntos e se foi, assim de repente. O encanto como que se dissipou. O povo não queria acreditar, estávamos ainda todos ainda no transe do show e havia acabado. Ficamos ali, melancolicamente vendo a desmontagem dos instrumentos e aparelhos. Aos poucos a multidão foi refluindo, agora por baixo e por cima e quando percebemos, estávamos só quase nós ali na platéia, ainda sem acreditar...

Voltei para o hotel em Pituba (bairro de Salvador), vesti bermuda, camiseta, chinelo de borracha e fui andar na praia, a pensar e acalmar meus sentimentos ainda inquietos e profundamente mexidos. Cheguei ao Jardim de Alah e por lá fiquei vendo o mar rugir e suas ondinhas brilhando na praia até alta madrugada...

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Luiz Mendes

27/05/2013.

 

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