O primeiro Natal

Um profundo desejo de amor e felicidade

por Redação em

O barro de meus pés reluz, refletindo as dificuldades de meu caminho de pedras. Como diria Raul Seixas, "Não sei para onde estou indo, mas estou no meu caminho". Acho que isso é tudo que sei: que estou no meu caminho, mesmo que não saiba em que sentido, é a minha direção. E sou responsável por tudo que produzo. Mereci cada segundo de tudo o que tem de feio e belo dentro de mim e de minha história.

Claro, queria ser muito melhor. Queria amar muito mais e me integrar à vida de muitas pessoas. Se posso desejar alguma coisa, queria acalmar esse comboio enlouquecido que trago trotando dentro de meu peito. Queria, em vez de presentes, amigos. Amigos de perto, de longe. Os mais antigos e aqueles mais recentes. Aqueles que vejo todos os dias e aqueles que raramente vejo e que é sempre uma festa encontrar.

Gostaria que o meu primeiro Natal em liberdade me fizesse lembrar daqueles amigos que ficaram esquecidos. Aqueles presos. Desejo do fundo de meu coração que cada pessoa que esteja presa, hospitalizada, internada em orfanatos ou enterrada viva em algum asilo receba alguém a visitá-lo nesse Natal. Mesmo aqueles que os esqueceram o ano todo; queria que neste ano lembrassem do infeliz amigo naquela condição. E que cada vítima receba a compensação da vida pelas suas perdas, porque, de nós, homens, coitados de nós...

Acredito sinceramente, por tudo que vivi, que todo tesouro que podemos acumular sem medo é o afeto daqueles a quem conquistamos os corações. O índice de felicidade de cada pessoa poderia ser medido pela quantidade de afetos acumulados. Tudo acaba quando deixamos de respirar, menos a saudade que deixamos em cada ser, humano ou não (há animais que deixam de viver de saudades do dono), a quem devotamos nossos sentimentos e dedicação.

Então este seria um dia dedicado a cada amigo. Aos constantes, aos intinerantes. Àqueles das horas difíceis, aos das horas alegres. Principalmente àqueles a quem magoei, até para aqueles que me magoaram. Aos que muito ficaram me devendo, aos poucos a quem muito devo (muito mesmo, quase tudo). Aqueles que conheço profundamente, aos que nem me conhecem (amigos escritores, poetas, filósofos e pensadores que viveram em todos os tempos permeando a história de sabedoria.).

Um profundo desejo de amor e felicidade a meus amigos mais humildes e até para aqueles mais importantes, neste Natal. De dentro da intrincada tessitura dos afetos e desafetos, saúdo e louvo a todos aqueles que passaram por minha vida. Vocês me engrandeceram. Trouxeram vastos céus e palavras mágicas que me tocaram de humanidade. Que os céus se rasguem para que as asas do sol incendeiem de luz seus corações.

De tudo somos profundos conhecedores, menos da paz. Vivemos rodopiando como vasto navio ao clarão das estrelas, de velas abertas ao vento. Marchamos às avessas em busca do que nem sabemos ao certo. Pior; não sabemos nem o quanto estamos distantes ou perto. A alma pulsa de incertezas e inseguranças. Esperamos ansiosos respostas e somos um feixe de questões em aberto.

A paz que imaginamos provavelmente nem exista. Deverá ser alguma coisa inteiramente nova, de tão velha. De qualquer modo, queria desejar paz ao coração do homem. No meu primeiro Natal entre as pessoas livres desejo paz a cada amigo ou desconhecido. A paz daqueles que fizeram o que puderam. Se não deu, tudo bem, um dia deveremos acertar. Se continuamos como sempre fomos, paciência, um dia seremos melhores de tanto que queremos ser.

Aos que me lêem, meu abraço afetuoso, meu carinho especial. Vocês também são responsáveis por eu poder estar aqui e viver este momento único. Vou passar a noite de Natal com familiares e o dia com meus filhos e amigos graças a vocês também. Imagino, serei feliz. Mas sempre haverá uma pontinha de nostalgia. Porque será que os nossos piores momentos são os que mais nos marcam?

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