O Melhor Lugar do Mundo

Onde começa aqui? Onde termina o aqui? Onde é agora? Onde termina o agora?

por Luiz Alberto Mendes em

QUAL  O  MELHOR  LUGAR  DO  MUNDO?

Onde começa aqui? Onde termina o aqui?

Onde é agora? Onde termina o agora?

Há começo e fim para o tempo e para o espaço?

Já me preocupei com isso e procurei saber. O interessante é perceber que aqui sempre será onde estivermos e só terá fim quando não estivermos. Aqui é relativo a nós, para nós é aqui. Para o outro, aqui será onde ele estiver, é óbvio. E, puxa, não somos a medida do mundo como queriam filósofos antigos antes do racionalismo cartesiano. Tudo parece, de modo muito evidente, existir independente de nós. Embora não haja certezas nesse sentido.  Também, pelo que parece, nada é gratuito. Ou tudo é gratuito. Para mim soa meio quebrado isso de acaso a compor vida assim tão lógica e encaixada. Devemos ser alguma pequena engrenagem que funciona dentro de seus parâmetros, imagino. E esse parâmetro é o aqui contingente, onde estamos situados.

Com o agora a história parece ser a mesma. Para a percepção não existe passado e muito menos futuro. Só existe o que esta para os sentidos imediatos. É parecido com a diferença entre ser e estar sendo. Ser é pedra; fixo e rígido. Estar sendo é fluir. A vida esta sendo, nós estamos sendo, fluindo. Tudo é dinâmico e contínuo. O agora, ao que tudo indica, é este fluir, esse movimento no tempo ou o próprio tempo no que ele tem de perceptível para nós. Sempre será agora, singular para cada um de nós. O poeta Mario Benedetti sintetiza magnificamente: “Há ontens e amanhãs; só não hojes.” Hoje é agora, e só há um que serve para todos.

Estou pensando que estamos em um tempo e um espaço únicos. Só um agora determina este momento como único existente. Só um aqui determina esse espaço como único existente. Aqui e agora, nosso espaço e tempo, sem começo ou fim, indeterminado...

                                                         **

 

O que não pode faltar no melhor lugar do mundo?

Vamos ver se conseguimos enumerar apenas o essencial:

Alimentação vem em primeiro lugar? Acho que sim. Ainda acho válida a máxima marxista: “De todos segundo suas capacidades e a todos segundo suas necessidades.” Num mundo como o nosso a fome é uma vergonha que todos nós deveríamos sentir. Liberdade viria em segundo lugar? Bem, saciada a fome o homem começa a pensar, vai querer continuar sua existência com liberdade. Mesmo que relativa, aquela dentro da qual ele saiba se mover. Alegria deve ser básico em um lugar que se pretenda o melhor do mundo. Alegria de viver, de amar... Amor não pode faltar, não é mesmo? Amar em todos os sentidos, sem limites, a terra, o ar, a água, o fogo, a planta, a pedra, o animal, o homem, a mulher, a criança... Amar, simplesmente existir mergulhado em um sentimento contínuo de bem querer tudo que há. Mario Quintana dizia que nem a morte iguala as pessoas: os defuntos ricos têm todos os dentes. Igualdade acho, é item essencial em lugar assim tão maravilhoso. Em todos os sentidos e nada de diferente seria execrado ou particularizado. Solidariedade deveria ser a base. As pessoas se socorreriam, se cuidariam e seriam felizes. Felicidade. Alguém disse felicidade? É, no melhor lugar do mundo não poderia mesmo faltar felicidade, mas não essa que depende da infelicidade dos outros.

Vamos ver: no melhor lugar do mundo teria que ter alimentação; liberdade; alegria; amor; igualdade; solidariedade; e felicidade. Rapidamente a gente consegue relacionar, experimente e acrescente.

É possível um lugar composto com essas essencialidades? Onde poderia existir isso tudo? Mas a questão mais difícil vem ai: saberíamos viver em um mundo assim? Alimentação farta, liberdade aos borbotões, alegria aos montes, amor pra todo lado, igualdade sem preconceitos, solidariedade completa e felicidade total. Saberíamos? Esquecemos uma coisa essencial, aqui foi proposital. O trabalho. Conseguiríamos viver sem o trabalho? Ou trabalho seria o primeiro mal a ser extinto a pauladas? Marcuse dizia que “o trabalho não dignifica o homem, antes danifica”. Mas quem e como iríamos sustentar tudo isso que compõe o melhor lugar do mundo? Máquinas, perfeito, máquinas. Mas, puxa, isso tudo não ia cansar? Não iríamos nos entediar de sermos tão felizes o tempo todo?

Talvez o melhor lugar do mundo, de repente, seja onde estamos e esses componentes nos faltem apenas porque não sabemos lidar com eles. Nisso somos todos iguais, partilhamos das mesmas necessidades: Alimentação, liberdade, alegria, amor, igualdade, solidariedade e felicidade. E o incrível é que todos conhecemos essas sensações (alimentação ai não se enquadra). Tivemos momentos livres (eu vivi tais momentos, mesmo preso por mais de 30 anos), alegres, amamos, recebemos, demos, estivemos solidários e fomos felizes. Ainda não sabemos exatamente do que somos capazes; constantemente extrapolamos nossas próprias expectativas. E, nossas esperanças são 100% embasadas nessas lembranças e nesses momentos. É possível.

Quem sabe o melhor lugar do mundo não seja no aqui e no agora, que é tudo o que temos da realidade, do que existe de fato? Provavelmente, podemos até ser convencidos que nós é que somos inábeis em fazer do aqui e agora o nosso melhor lugar do mundo.

                                                      **

Luiz Mendes

04/11/2009.

 

 

    

 

 

Arquivado em: Trip / Comportamento