Quando sai da prisão, quis conhecer os shoppings que tanto ouvira falar. Fui em vários, as pessoas pareciam mais bonitas que nas ruas, como se vestissem para ali desfilarem suas melhores etiquetas, modas e modernidades. Pelo que vi aqui em casa, as pessoas devem perder horas escolhendo roupas, penteados, maquiagens para se dirigirem a esses lugares. Até as pessoas mais velhas pareciam preocupadas em estarem melhor arrumadas. Ao tempo em que vi também um elitismo, uma marca de pessoas privilegiadas entre os frequentadores. Haviam pessoas de uma classe econômica tida como inferior, mas que ali se apresentavam segundo os padrões daquele espaço, como eu, por exemplo. Difícil distinguir quem é quem. Estavam ali aos milhares, mas ninguém conhecia ninguém e nem fazia questão disso. Creio que deva haver uma sinergia em estar juntos, como se estar próximo a pessoas já produzisse alegria de viver. As pessoas sorriem, se entreolhavam, mas não demonstravam interesse de se conhecerem, até fingem não se ver.
Os jovens são sempre os mais despojados, alguns em chinelos havaianas, as garotas com shorts curtinhos ou bermudas agarradas (sem exageros) e camisetas. Os meninos de boné e roupas escuras, como usam as bandas de rock; ou de bermudas, camiseta e tênis muito coloridos. E ali estão para se verem, namorarem e até se conhecerem. Guardadas as proporções, parece com aquelas praças de cidades do interior em que os garotos andam em um sentido e as garotas no sentido contrários só para se apreciarem. Acho que os jovens são os frequentadores que melhor curtem os shoppings. São mais alegres, expansivos e chegam a correr por entre a multidão, em suas brincadeiras juvenis.
Os produtos teem qualidade, sempre de marcas famosas e de primeira linha; mas preço era muito caro, quase o dobro do preço das lojas. Compreende-se: o aluguel daqueles palácios aclimatados devia ser caríssimo. Pode estar o maior calor ou frio do lado de fora, nos shoppings o clima é sempre o mesmo; agradável a todos seres humanos. As vitrines artisticamente elaboradas por profissionais de marketing, puxavam os olhos da gente quais imãs. As lojas, na maioria das vezes, são das próprias grifes que expõem seus produtos. Claro, tirando os grandes magazines que nos shoppings são grandiosas e tomam os melhores espaços. Não há o que não se encontre, desde produtos do lar até produtos automotivos, dando ênfase à roupas que parecem ser o carro chefe. Tudo limpinho, não se vê um papelzinho no chão que brilha o tempo todo. Parece o metrô, no começo, com sua política de limpeza 24 horas. Aos fins de semana multidões passam pelos portões principais. Os estacionamentos superlotam ao ponto de pessoas ficarem rodando um bom tempo para conseguir uma vaga para seus carros. E carros bonitos, boa parte importados, encontram-se as melhores e mais caras marcas internacionais ali estacionadas. Enormes, suntuosos; ou pequenos, econômicos.
Geralmente, anexados existem hipermercados com tudo o que se possa necessitar dentro de uma casa. Verdadeiros palácios da alimentação, com produtos sofisticados, importados, assim como pão, arroz e feijão. As pessoas aproveitam para fazerem suas compras mensais nesses grandiosos mercados.
Tentei escapar do fascínio que os shoppings exercem sobre as pessoas. Parecia novela; uma gostosa alienação. Mas, aos poucos fui me deixando seduzir. Não possuía dinheiro para comprar quase nada, então não tinha graça ver com os olhos e lamber com a testa. Hoje com um rendimento um pouco maior, fico frustrado quando vou a esses lugares e não compro nada. Sinto-me quase que forçado a comprar algo, o consumismo entrou em minhas veias e não estou conseguindo controlar. Talvez esse seja o mais poderoso dos vícios que lamentavelmente contrai.
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