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O céu pode esperar

Apesar de largadão por natureza, o vocalista do Ratos de Porão e apresentador de maior audiência da MTV levou o ano de 1999 empenhado em perder peso e melhorar de saúde. No final do ano, João Gordo se deu conta de que gastara uma grana altíssima em diversos tratamentos e de que os resultados foram poucos ou nenhum. Possesso, jogou tudo para o ar: ignorou recomendações médicas e mergulhou numa roda viva de excessos que o fizeram engordar 20 quilos. Fumava três maços de Marlboro por dia, comia muito e de tudo, bebia líquidos de litro em litro e, como de praxe, abusava dos neurônios em baladas fortes cada vez mais freqüentes. A inconseqüência foi tanta que o seu corpo não aguentou: pegou uma forte infecção pulmonar e, depois de alguns dias, o pulmão esquerdo se rompeu e encheu de água.

TRIP: Como foi o baque, a hora em que seu pulmão pifou?
João Gordo: Eu estava indo do trabalho para casa e dormi na Kombi. Quando acordei, vi que o motorista tinha errado o caminho. Eu não sou de brigar com ninguém, mas fiquei irado com o cara e comecei a gritar. Aí começou o piripaque. Eu respirava e vinha só um pouquinho de ar: i-hi-i-hi-i-hi. Tava doendo muito e o pior é que eu estava tendo o piripaque com o cigarro aceso, respirava e não vinha nada. Olhei e falei: Que é que eu estou fazendo com essa merda na mão?

TRIP: O que você fez para conseguir socorro?
Gordo: O pessoal da banda estava em casa me esperando porque o Ratos ia fazer um show naquela noite, estava no contrato e eles tinham que ir. Desci do carro roxo, sem ar, e só consegui falar: Não vou poder viajar com vocês. Chamaram o meu médico e fomos para o hospital, num puta trânsito horrível, Marginal parada e tudo. No hospital, subi na maca e apaguei.

TRIP: Qual é a sensação de apagar?
Gordo: Eu tive uma visão muito louca, um lance meio religioso. Eu estava com o campo de visão bem aberto, enxergava tudo tipo CinemaScope, com as cores superestouradas. Era tudo lindo, me deu uma paz de espííírito… Eu estava achando demaaais… De repente aparece o meu médico vestido com uma armadura de romano, toda dourada, estilo Ben-Hur. Com aquela luz toda, vi que ele estava com duas asonas enormes de anjo. Ele olhou para mim e falou: Escapamos dessa, hein, Johnny?. Tinha uma música de céu rolando… Aí apagou tudo.

TRIP: O seu período no hospital foi tranqüilo?
Gordo: No hospital as enfermeiras são todas umas anjas. O ruim é toda hora injeção, tirar sangue, sonda no pau, sonda no nariz, eletrodo, hora do banho. E a coisa mais horrível que existe é broncoscopia. Foi muito ruim, eu chorava. Não desejo isso para ninguém. Passei duas semanas na UTI e a única coisa boa era a hora da comida.

Cyro Guimarães Jr., médico de João Gordo, tira um raio X do caso e explica por que o líder do Ratos de Porão foi parar num quarto de UTI: Um dia depois de chegar ao hospital, ainda respirava com dificuldade e precisou usar o respirador artificial por 48 horas. Ao todo, foram três dias sob narcose – má oxigenação cerebral. Durante esse período é comum a pessoa entrar em estado de semi-alucinação. Desde que foi internado, ele já emagreceu 40 kg e atualmente pesa 170 kg. Hoje, está com 75% da sua atividade pulmonar, ainda em recuperação e terá de viver sob cuidados. Não poderá beber o que bebia e nem comer o que comia. E também deve evitar jogar qualquer coisa para dentro do pulmão agora. João é uma pessoa incrível, que quer muito melhorar, mas tem um grande inimigo: ele mesmo. Tudo o que aconteceu deixou-o bastante assustado e, por um lado, isso é bom para nós.

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