Nova York é aqui

Nosso colunista viaja para a capital mundial da cultura pop e compara a vida cultural de lá com a de SP

por Alê Youssef em

Por Alê Youssef*

Em recente viagem para Nova York pude comparar a agitação e diversidade cultural da cidade com o que temos em São Paulo. Pra quem analisa as duas metrópoles com um olhar de cima pra baixo, ou seja, compara a avenida Paulista com a 5th Avenue, a Oscar Freire com o Soho, ou o Moma com o Masp, não há dúvida da distância que existe. Nova York é realmente espetacular, basicamente porque é muito mais rica. Mas, pra quem olha por baixo, ou seja, para os amantes do underground e dos ambientes férteis da nova cultura, São Paulo não deve nada.

Bairros interessantíssimos como Lower East Side, East Village, Lolita (Lower Little Italy) e Williansburg são charmosos, repletos de bares, clubes, galerias e nova arte. Entretanto, as versões paulistanas também são poderosas: baixo Consolação, centro da Vila Madalena, oeste de Pinheiros, sul da Barra Funda. A produção de nova cultura também é similar. Se em NYC é fácil encontrar a arte de Shepard Fairey, excelentes bandas tocando em lugares pequenos e intimistas como Studio B ou Nublu, e ainda ótimos DJs em clubes como Santos Party House ou The Annex, por aqui temos artistas como OsGêmeos, vários lugares de música ao vivo como Studio SP e CB com bandas sensacionais e todos os tipos de clubes e DJs, todos os dias da semana. Aliás, não vi em NY lugares tão bonitos e caprichados como D-Edge, Vegas, Royal ou Glória. A grande diferença está na relação entre esse tipo de cultura e o Governo. Em Nova York houve uma adaptação da cidade ao tolerância zero de Giuliani. OK, não se pode beber na rua, fumar nos clubes ou grafi tar paredes, mas grande coisa! Com o tempo se percebeu que dava pra manter a intensidade das festas dentro dos lugares e a criatividade dos artistas urbanos com os stickers (mais fáceis de grudar sem chamar atenção).

Quando se tem ações públicas pelos bairros boêmios, como o New Museum (espaço dedicado a exposições de arte contemporânea), estações de metrô abertas 24 h e wi-fi grátis por todos os cantos, fi ca óbvio que a cidade está antenada com o que está acontecendo de mais novo no mundo da arte e compreende o papel estratégico e econômico de tudo isso. Imaginem nosso metrô funcionando 24 h, ou mesmo um grande centro de arte no meio da rua Augusta. Só faria bem. Já escrevi nessa mesma coluna que o prefeito Kassab tem um jeitão de Giuliani. Como em NY, acho possível adaptar as coisas: ações como o Cidade Limpa, lei antifumo e a polícia na rua podem conviver com a compreensão da face vanguardista da cidade. Políticas de turismo, desenvolvimento local e geração de empregos baseadas na nossa noite, arte urbana e negócios jovens darão um retorno importante para a cidade que, com um empurrão, pode se consolidar como uma das capitais mundiais da diversidade e da cultura alternativa.

*ALÊ YOUSSEF, 33, é sócio do Studio SP e um dos idealizadores do site www.overmundo.com.br. Foi coordenador da Juventude na prefeitura de São Paulo (2001-2004). Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br

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