No olho da onda
Fotógrafo de surf há 25 anos, Sebastian Rojas conta o que é preciso para se dar bem na carreira
Completando 25 anos de carreira, Sebastian Rojas é um dos principais de fotógrafos de surf do Brasil. Com mais de 60 capas da revista Fluir de revista no currículo, hoje ele ministra workshops pelo país ensinando como registrar uma boa sessão. Seu pico preferido para fotografar é a Indonésia, onde está também um dos lugares onde mais gosta de surfar, Hollow Trees (Mentawai).
A caminho de mais um workshop, Rojas contou à Trip o que se deve fazer para ser um bom fotógrafo de surf, falou sobre a maior que onda que já registrou (8 metros) e enumerou as dificuldades para fazer uma boa foto.
Quando você se deu conta de que seria fotógrafo?
Foi uma transição que houve entre a vontade que sempre tive de fazer pintura, desenhos, quadros. Vi que não tinha um talento grande para pintura. Imaginei que eu poderia comprar uma câmera fotográfica e me desenvolver e ser um pouco mais feliz nisso. Comecei a pesquisar a fotografia e senti que tinha uma facilidade maior para pintar com uma máquina fotógrafica do que com um pincel. Eu devia ter uns 20 anos.
Qual é seu lugar preferido para fotografar?
Ainda é o Taiti, mas estou conhecendo mais a Indonésia, não só o surf, mas a cultura em geral. Estou descobrindo lugares novos, é muito grande, tem mais de 12 mil ilhas. Estou cada vez mais gostando de fotografar por lá justamente porque tem muita coisa nova.
E qual é seu lugar preferido para surfar?
O lugar mais relaxante é o Guarujá, onde eu moro. Lugar para treino, sentir mais adrenalina, é na Indonésia mesmo. No Havaí também, para sentir mais o peso da coisa.
Algum pico em particular?
No Havaí, gosto bastante de Sunset; na Indonésia gosto bastante de Hollow Trees, nas Ilhas Mentawai e no Guarujá, o Canto do Maluf que é onde vou surfar normalmente.
Consegue se recordar de uma sessão de fotos que foi especial?
Tem várias sessões especiais. Eu diria que no Taiti, em Teahupoo, há muitos anos, entrou um swell gigantesco e o Malik Joyeux, já falecido, pegou uma das maiores ondas que eu já registrei. Na verdade, foi a maior. Devia ter uns 25 pés, mais ou menos, sete, oito metros. Foi uma onda muito impressionante, marcou muito todo mundo que estava lá. Eu estava no barco, num canal, muito próximo da onda, fiquei muito feliz de estar presente naquele momento. Foi muito intenso e para a minha carreira foi bacana.
Qual é a maior dificuldade para um fotógrafo de surf?
É esperar pelo próximo swell, quando as condições vão estar propícias para trabalhar.
É a mesma dificuldade do surfista?
O surfista se contenta em surfar uma marolinha. O fotógrafo na marola sabe que não vai render. Nem sempre as condições que são boas para o surfista são boas para o fotógrafo. Tem que ter tudo, onda grande, tempo perfeito, tudo isso. E para tudo isso acontecer, tem que ter um exercício de paciência e a mãe natureza enviar [as condições perfeitas]. Tem que ter um pouco de pé-quente também, estar presente quando as coisas acontecem.
O que é preciso para ser um bom fotógrafo de surf?
Precisa gostar muito, gostar mesmo, para não se importar com as condições, ter um orçamento generoso para poder investir nos melhores equipamentos, ter uma “balinha” para viajar, porque se você ficar só no Brasil, fica muito limitado. E se dedicar muito àquilo que você quer. Aprender de tudo, a fotografar retratos, fazer paisagens, tentar ser completo, fazer a fotografia do surf de uma forma completa. E não se cobrar muito em relação ao retorno que você vai ter. É a pior coisa que existe, você querer que as coisas aconteçam rápido e elas fatalmente não vão acontecer rápido. Elas vão vir com o tempo, com dedicação, sua forma de lidar com o mercado, tudo isso é um aprendizado. Tem que ser bom na fotografia e no social também.
Você prefere as máquinas analógicas ou se adaptou bem à fotografia digital?
Minha relação [com a tecnologia] é a de um casamento perfeito. No começo eu relutava achava que não tinha a mesma qualidade. Hoje em dia está muito melhor, as câmeras tem uma excelente qualidade. Você entra na água para fotografar e pode tirar mil fotos, antigamente entrava com um rolo de 36 poses. A diferença é de produtividade também. Não perde muita qualidade para salvar uma foto com pouca luz.