Ninguém Entende...

por Luiz Alberto Mendes em

 

Ninguém entende quando me quedo a observar a fumaça se extinguindo de uma brasa no cinzeiro.

Ninguém entende quando corro atrás da lupa para ficar observando uma formiga ou outro inseto qualquer. Sequer imaginam o quanto aquele ser me intriga com seu jeito único de ser.

Ninguém entende no quanto me alegro ao observar cães e acabo sempre indo para cima, mexer com eles, se possível fazer um carinho, querendo entender e participar.

Não entendem porque eu paro na rua para admirar crianças, ou paro mães para ganhar um sorriso de um bebê e mexo com as crianças no ônibus, nas ruas e em todo lugar. Sei lá porque, me dou tão bem com cães e crianças, nasci assim.

Também ninguém entende porque fico hipnotizado e paro diante mulheres com corpos esculturais que vejo nas ruas, quase babando de admiração. Não é nem tesão, é mais prazer de olhar o que me parece extremamente belo e desejável.

Não entendem quando entro no super mercado, no shopping ou em qualquer estabelecimento e fico lendo todas as embalagens, todos os anúncios e todas palavras compulsivamente. As letras me atraem, ainda mais quando coloridas e enfeitadas.

Ninguém entende quando paro e fico rodeando uma árvore feito bobo, como se quisesse falar com ela e meus olhos acariciasse cada um de seus muitos galhos e cada uma de suas menores folhazinhas.

Ninguém entende como posso perder dinheiro ou oportunidades de ganhar dinheiro e não me importar com isso. Como vivo em crise econômica permanente e  isso não afete meu trabalho e nem a disposição do vir a ser.

Não se conformam em como sou enganado, como compro bugingandas, como sou roubado por comerciantes gananciosos, bancos e pouco me importo com isso.

Ninguém entende que o que colocar na mesa eu traço, sem frescuras de não gosto isso, não gosto aquilo; não importa o que seja eu sempre acho que esta gostoso. Não sabem que já passei fome, comi lavagem dos porcos, comida azeda e até papel higiênico.

Não entendem porque corto as etiquetas de minhas roupas; elas me incomodam, não estou acostumado àquela coisa raspando minha pele. Também não quero que me mensurem pela roupa que visto.

Outra coisa que não entendem em meu comportamento é porque não quero aprender a dirigir. Porque não quero ter carro ou moto. A maioria considera tão fundamental... As pessoas não têm mais pernas; têm rodas. A mim dá pavor. É responsabilidade demais dirigir nesse trânsito louco, ainda mais conduzindo pessoas.

Não entendem porque não quero fazer faculdade ou estudar inglês por mais financiado sejam os cursos. Olham como eu fosse de outro planeta porque não me importo com certificados e muito menos em falar outro idioma.

Não aceitam que eu não queira ir visitar os Estados Unidos ou a Europa, mesmo com tudo pago. Preocupam-se quando digo que o único país que me interessa conhecer, além do meu, é Cuba. E só porque quero ver e saber e não comer pela mão de ninguém ou de qualquer ideologia.

Ninguém entende porque não saio à noite, porque não vou a baladas, porque durmo e acordo cedo mesmo sem ter necessidade. Não entendem que não tenho vontade sair de casa nem de dia, além de não ter para gastar e sair gasta, que prefiro ficar em casa estudando, matutando meus textos, escrevendo ou lendo.

Ninguém entende porque não me adapto a modas e me visto, ando e faço o que me manda a vontade. Não entendem porque vire e mexe esqueço o celular em casa propositalmente. Ele vive descarregando e eu nem percebo. Detesto ficar falando de longe, sem olhar nos olhos.

Não entendem porque não gosto de nenhum tipo de jogo, nem de futebol. Jamais joguei em loteria ou número; nunca gostei de jogo algum. Até sei jogar tudo e o faço bem, mas isso só me aborrece e não me empolga.

Não entendem que detesto passatempo. Acho que o tempo é toda riqueza possível da vida; saber como viver é saber como usar o tempo da forma mais produtiva possível. Eu quero o contrário: não passar o tempo e sim aproveitá-lo ao máximo, qual um bagaço de cana, moendo e remoendo até aproveitar todo sumo.

Não entendem que detesto planejamentos e que não planejo nada para além de uma semana. Eu quero é o inusitado, aquilo que não aconteceu ainda, a alegria da surpresa e o prazer do inaugural. Planejar é acabar com a liberdade e a espontaneidade da vida.

Não entendem...

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Luiz Mendes

17/09/2014.  

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