Negócio em família
Conheça os responsáveis pela alta qualidade do underground brazuca
Conheça o clã Rocha, peça-chave no subterrâneo musical paulista, responsável pelos melhores álbuns da cena independente nos últimos anos
Daniel Ganjaman, 26, é um dos mais respeitados produtores de rap nacional e uma das três cabeças do Instituto, festejado núcleo de produção paulista. Fernando Sanches, 25, é engenheiro de som e produtor requisitado entre as bandas de rock alternativo de São Paulo, além de ocupar o posto de guitarrista e baixista em três delas ? Van Damien, Hateen e Againe. Maurício Takara, 22, já respondeu pelas baquetas de Otto e Xis, é baterista do Instituto, do Cidadão Instigado, do Hurtmold e se reveza do vibrafone ao trompete no projeto solo que leva seu nome, o M. Takara. Em comum, além do gosto pela música, os genes e o estúdio El Rocha ? batizado assim numa tradução literal de rock e também porque no Nordeste a palavra é uma gíria para coisas legais ?, sede da cena rock underground paulista, que os três irmãos comandam com o pai, seu Claudio Takara.
A trajetória musical do clã começa no início da década de 60, quando o patriarca, então com 12 anos (?!), caiu na estrada como guitarrista dos Sambambas, banda de covers que animava bailes do interior pau-lista. A prematura carreira musical de seu Claudio durou oito anos. Daniel foi ainda mais precoce: com 7 já experimentava os instrumentos que o pai conservou daquela época. Não demorou muito para que Fernando e Maurício seguissem o exemplo do irmão. Como o gasto em estúdios estourava o orçamento familiar, já que cada filho tocava em duas bandas diferentes, a solução encontrada foi montar um estúdio próprio .
Alugaram uma garagem e toda a cena com que os três estavam envolvidos na época adotou o El Rocha como estúdio. Por lá passariam dos Ratos de Porão ao Forgotten Boys. A sonoridade vintage, o preço camarada e o clima familiar fizeram a fama do local. A gente não tem estúdio com cara de consultório dentário, sentencia Fernando.
Refúgio underground
Daniel, que operava a mesa do estúdio, já andava com a agenda sobrecarregada, revezando-se entre várias bandas, e começou a dividir o trampo com o irmão Fernando. A transição de engenheiros de som para produtores musicais foi natural: As bandas que freqüentavam o estúdio eram pequenas, não tinham produtor, e eu acabava dando palpite. Depois de trabalhar com tantos grupos, você fica com ouvido apurado. O Fernando também acabou virando produtor por necessidade dos grupos que gravavam no Rocha.
Com Zé Gonzales, ex-DJ do Planet, Daniel viria a produzir Sabotage, MV Bill, Nega Gizza. Mais tarde assinaria a direção técnica de Nada Como Um Dia Após Outro Dia, dos Racionais MC?s e, ao lado do Instituto, os créditos de produção de bandas como Nação Zumbi, além de trilhas cinematográficas. Fernando fez nome no cenário punk rock e hardcore paulista e se prepara para rodar o país como baixista do CPM 22. Maurício, além da carreira como baterista, ajudou a movimentar a cena de pós-rock (ou free jazz) brasileira, como costumam rotular seu projeto solo e o Hurtmold, banda que mantém com amigos. Nós não ga-nhamos dinheiro com o estúdio, mas pagamos as contas e investimos aqui. A intenção era fazer com que os discos de toda uma cena underground tivessem mais qualidade, avalia Ganjaman. Missão cumprida.