#nãovaiterolimpíada

Um post para o dia 17 de junho de 2015

por Emilio Fraia em

Olha, se existe uma coisa que não muda é que: tudo muda. Ou quando nada acontece, há sempre algo acontecendo — um cabelo que cai, uma unha que cresce. Um ano não é lá muita coisa (se a gente pensar nos 13,7 milhões de anos desde o big bang), mas tudo é novo, sempre, de um jeito ou de outro. As manifestações contra a Olimpíada, por exemplo. Começaram a pipocar aqui e ali. Todo o dinheiro para o futebol, e nada para o vôlei; o atletismo vai mal; desse jeito não vamos evoluir no curling. A tática Yellow Bloc voltou pra valer. E dá-lhe tuite de #imaginanaolimpíada. Dá-lhe #nãovaiterolimpíada (que é coisa de Yellow Bloc também). E mesmo se tiver, não vai ter. Com tudo o que aconteceu no ano passado, nas eleições pra presidente, pra governador, a gente pensa: e agora? Um amigo pergunta: seguimos sendo uma nação que a todo o momento vai do tapume à demolição, infinitamente, sem nunca construir coisa alguma? É isso mesmo? Olha, acho que a gente vai lembrar desse junho de 2015 assim: tudo está disponível, e nada é surpreendente (vou tuitar isso). Um professor da universidade de Newcastle upon Tyne, na Inglaterra, disse outro dia que os assuntos a serem tratados com seriedade não foram esgotados: a atmosfera ferve, as reservas de água secam, a dinâmica política desafia toda e qualquer imaginação para autorizar a catástrofe. Mas os meios para registrar essa tragédia toda, esses sim se esgotaram (vou tuitar). No Facebook (agora conhecido como “O Lodo Azul”), o líder político labuta num comentário sobre o trending topic do dia. A galera do stand-up comedy também. O publicitário, o desenvolvedor de aplicativos. Todo mundo atrás de seguidores (que é coisa do messianismo e da religião). Mas a cada post, a cada uma dessas reiterações, como um eco, as vozes vão ficando fraquinhas, distantes. Porque tudo se equivale, e as indignações se renovam a todo minuto no nosso feed mental (vou tuitar). No quesito festa junina, todavia, a coisa melhorou. No ano passado, todo mundo só queria saber da Copa, e o São João, tadinho, ficou de castigo. Aliás, que saudade da Copa. Dá pra trocar Catar 2022 pelo Brasil de novo? (Vou tuitar.) Até lá, o Itaquerão vai estar pronto e tudo (vou tuitar). No lugar de Holanda e Brasil, vieram esses food trucks na Vila Madalena, e a bola da vez agora é o ovo de codorna – que virou a nova barriga de porco, que já foi o novo limão-siciliano, que costumava ser, num passado remoto, o novo tomate seco. Os livros seguem sendo impressos (ninguém lê). Em breve teremos mais livros do que seres humanos no planeta. Luciano Huck, reforma o meu carro? O Fatboy Slim vem de novo pro Brasil. Continuamos não achando graça quando a piada é com a gente. E o jornalismo não acabou, hein, que coisa (vou tuitar isso).

Emilio Fraiajornalista e escritor, recebeu a missão de imaginar como será o dia 17 de junho do ano que vem.

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