Não há do que no perder

por Luiz Alberto Mendes em

 

Aprender                 

 

A nossa existência vai sendo comprimida pela aceleração do tempo. Tornamo-nos plurais, muitos, e todos estranhos a nós mesmos. Sofremos processo galopante de desumanização. O valor da utilidade contrapõe-se ao valor da vida. O útil é mais importante que o que perdura. Poderíamos deduzir que estamos nos perdendo. Mas não há do que nos perder. Nunca estivemos “achados”. Estamos sem guias, entregues a nós mesmos e nossos parcos recursos. Tudo que nos disseram não era mentira. Só não existiam. As teologias religiosas, os tratados sociológicos, as teorias psicológicas não nos enganaram. Nós é que nos enganamos ao pensá-las definitivas. Tudo o que nos serviu por um tempo, hoje é obstáculo a ser transposto necessariamente. Mas, estranhamente, vivemos obcecados para que tudo seja para sempre. E tanto nós, a vida e o mundo estamos em constante movimento de ultrapassagem.

Não somos possuidores dos meios naturais. Produção, construção e trabalho não realizam ninguém na verdade. Constroem apenas rotinas mecânicas que lesam nossa natureza inventiva. Como queria Marcuse: “trabalho não dignifica o homem, antes danifica”. Enganamo-nos ao nos arvorarmos em interventores da natureza. Não controlamos o que nos cerca. Esta mais para o que nos cerca nos controlar. Mas tudo bem; geramos um padrão, mesmo com tudo explodindo ao nosso redor. E vamos vivendo. Aos trancos e barrancos, nos ferindo e machucando, apenas seguindo em frente. O que nos dá a chance de aprender. E aprender com o que vivemos é quase tudo o que nos resta.

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Luiz Mendes

08/06/2011.

  


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