Mr. Jenkins
Esculturas de fita adesiva invadem o MIS, e todos os mistérios de Mark são desvendados
Mark Jenkins é um artista americano que trabalha com esculturas nada convencionais. Ele ficou conhecido no mundo inteiro pelo projeto TapeSculpture, no qual constrói esculturas de fita adesiva, interfere com ambientes urbanos e as fotografa, criando sensações e ações que destoam do senso comum e cotidiano.
Depois de sua arte passar pelo Brasil anos atrás numa exposição no Sesc, agora em performance na galeria da Rojo Nova no Museu da Imagem e do Som em São Paulo, a TRIP conversou com Mark e acompanhou parte da modelagem de uma das esculturas que desenvolveu para o local. O modelo para a nova composição foi escolhido na hora da performance e com tímidos olhares curiosos ao redor, ele começa pouco a pouco, a plastificar a pessoa.
Quem é plastificado garante que o processo é tranquilo, e que quando o molde é retirado chega a ser engraçado conferir e entender suas proporções, se vendo de fora. "Só demora", diz o modelo que preferiu não se identificar.
Para que as modelagens desenvolvidas durem até o final de suas performances e exposições e se mantenham perfeitas, é preciso um processo que segue em etapas. A modelagem começa com Mark forrando o seu molde com papel filme - sempre atento para não apertar demais - e só então começa a passar as fitas adesivas. A textura da fita colante é bem mais rígida que a do plástico filme, e é só aí que a escultura começa a ganhar rigidez. Muitas camadas de fita são necessárias para atingir a forma final.
Jenkins conta como começou o seu caminho. Inicialmente não queria ser artista, não estudou e nem buscou propositalmente isso. Se orgulha de dizer que o caminho foi espontâneo e que sem querer e sem controlar, chegou até a sua arte e expressão.
Em meados de 2002, quando passava uma temporada morando no Rio de Janeiro, se deparou com as fitas adesivas quase como uma forma de "consertar todas as coisas", explica. "As fitas estavam em todos os lugares. As pessoas colam e remendam tudo". Pensou que tinha que fazer algo com isso, e fez.
"É tipo música, que quando você ouve admira e respeita quem está fazendo aquilo, mas nunca acha que teria competência o suficiente pra produzir igual". Hoje, seguro de sua arte, dá workshops pelo mundo e ensina qualquer pessoa a fazer exatamente o mesmo que ele.
Mark explica que geralmente é respeitado pelo que ensina, e que em forma de retribuição e consideração, as pessoas que aprendem sua arte nos workshops não o copiam. Até já viu imitações por aí, mas prefere não se incomodar.
Algumas histórias engraçadas permeiam essa arte de Mark, que entre perguntas prontas e devaneios improvisados conta que uma vez foi convidado por uma garota de 10 anos para fazer uma escultura de fita do seu cachorro. Foi a coisa mais estranha para a qual havia sido convidado a esculpir até então. Hesitou e achou meio mórbido de início, mas entendeu que não havia nada além de um carinho extremo da menina pelo animalzinho. Topou. Foi lá, esculpiu o bicho que se comportou com destreza durante a sessão, e no final acabou adorando a escultura.
Para ele, estranho mesmo é que algumas esculturas sejam feitas a partir do seu próprio corpo. Antes contava com a ajuda de uma namorada para forrar a si mesmo de fita, e agora que não tem mais a namorada, espera a próxima "assistente" antes de fazer esculturas de si mesmo novamente.
Uma das coisas que chamam a atenção no trabalho de Mark é a relação existente entre a arte e local de instalação. É claramente proposital que algumas esculturas estejam como e aonde estão. Mark diz que cada escultura passa por um estudo até ser montada em seu local de exposição e que isso é bem individual e não há como prever. Em alguns casos o que chama sua atenção é o lugar, e depois disso é que pensa na escultura que pode estar ali. Já em outras situações, ele tem primeiro uma idéia de uma escultura, e procura um lugar aonde ela possa passar a fazer sentido.
Um homem de poucas palavras, se fosse preciso definir. Mark passa muito tempo concentrado na mesma atividade, que tem um alto nível de detalhes, e exige atenção e dedicação em silêncio quase absoluto. Assim passam-se horas ao lado dele, sem que, necessariamente, ninguém lhe diga nada ao redor.
Vai lá: ROJO®NOVA - Cultura Contemporânea
Data: de 1º de julho a 15 de agosto de 2010
Local: Museu da Imagem e do Som (MIS)
Endereço: Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo
Horário: Terça-feira a sábado, das 12h às 19h; domingo e feriado, das 11h às 18h
Site: Museu da Imagem e do Som