Missão cumprida

Apesar de não ter sido eleito como deputado federal, saio da campanha de 2010 orgulhoso

por Alê Youssef em

Ter quase 20 mil votos nesta eleição foi uma grande vitória. Tenho certeza de que fizemos uma campanha diferente e bonita e agradeço demais o apoio que recebi de muitos leitores da Trip.

Optei com convicção por um trabalho de resgate do voto de opinião. Não seria candidato a deputado federal para fazer o convencional e foi justamente por isso que não aceitei dinheiro de lobby de empresas e não adotei a tática da esmagadora maioria dos candidatos que compra lideranças comunitárias para formar currais eleitorais nas periferias das cidades – o que garante grandes quantidades de votos. Também não busquei a visibilidade da campanha com cavaletes horrorosos, santinhos espalhados pelas ruas na porta dos colégios eleitorais e toda estratégia suja adotada pelos candidatos que não se preocuparam com a lei Cidade Limpa.

Além disso, também fiz questão de incluir na minha plataforma temas que acredito serem fundamentais no debate político e que, por caretice e conservadorismo, ficam sempre à margem das discussões nacionais. São assuntos muito polêmicos para a sociedade e também ausentes da mesma esmagadora maioria das candidaturas. De novo, não seria candidato para fazer o convencional.

Sempre soube da dificuldade em me eleger com esse tipo de conduta. Também pude comprovar ao longo da campanha que realmente existe uma grande distância entre alguns setores da sociedade e a política. E essa distância é muito maior quando analisamos as novas gerações, foco principal do meu discurso e do meu esforço.

A equação que compõe o estilo diferente da campanha – com a enorme rejeição da política no universo em que estou inserido, somada ao fato de eu não ter aparecido no programa eleitoral – nos dava noção do quão difícil era essa tarefa.

E mesmo assim foram 20 mil votos! Definitivamente não é pouca coisa!

Lamento ver o Tiririca campeão de votos e o Maluf ficha suja terceiro mais votado. E fico triste em verificar a baixa votação de candidatos dedicados à cultura, como o Célio Turino, coordenador do programa Pontos de Cultura do governo federal, ou de candidatos que fizeram campanha exclusivamente pela internet, como o Claudinho Gaspar.

O setor cultural e os setores mais modernos da sociedade precisam se organizar para eleger representantes. E as pessoas precisam se acostumar com o debate político através da internet. Não é ofensa ou invasão expor ideias políticas na rede e não é reclamando disso que vamos exercer a cidadania e impedir que os mesmos políticos de sempre se elejam por maneiras verdadeiramente ofensivas e invasivas. Esses nunca deram e não darão a menor importância para a cultura, para a modernidade e para a internet.

AO LADO DA MARINA


Agradeço especialmente a Marina Silva, que despertou novamente minha vocação política com seu brilho e delicadeza e me fez topar esse desafio. O que sei ao certo agora é que estarei ao lado dela.

Volto feliz à rotina de debates sobre outra política desta coluna, aos meus Studio SP e Comitê, à presidência do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, aos demais trabalhos culturais que desenvolvo e aos meus estudos sobre economia criativa – tema que vou continuar defendendo.

O desafio é seguir combatendo a política velha e tentando despertar o interesse por algo novo nas pessoas, para que possamos efetivamente buscar a representação geracional que tanto defendi ao longo da campanha.

Me orgulho por ter dado alguns passos nesse sentido.

* ALÊ YOUSSEF, 35, é sócio do Studio SP e do Comitê, um dos fundadores do site Overmundo. Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br. Seu Twitter é @aleyoussef

 

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