Minha irmã

Depois de três meses de namoro, ela casou – e fez competição de flexão de braço no salão

por Autumn Sonnichsen em

Oi, Luiz,

Era para você ter vindo nesse dia, no casamento da minha irmã mais velha em Seattle. Pena, você perdeu uma festa incrivelmente boa.

Olha como ela tá forte, linda. Conheceu esse marido há três meses, sabia? Estavam na feira e ele resolveu ir lá cumprimentar os melões que ela estava comprando. Vai saber. Mas logo na sequência, era véspera de Natal, esse sujeito cheio de formalidades românticas pediu ela em casamento na frente da minha mãe e do meu irmão. Eu mesmo só conheci ele no dia no casório, quando veio me buscar no aeroporto num Denali prata com um abraço gigante. É um cara legal, tem duas filhas e um sorriso grande, é do tipo que prefere ice tea e Red Bull, mas está tentando gostar de vinho porque sabe que a minha irmã gosta muito.

Era o dia dos namorados nos Estados Unidos, por isso quase todos os convidados chegaram de vermelho. Eu estava trabalhando do outro lado do mundo, e assim que terminamos de clicar peguei um voo de 25 horas e cheguei na hora de ajudar a arrumar as flores e pôr uma roupa decente. Obviamente eu tinha que fotografar. Mesmo que ela não tivesse me pedido, eu não deixaria outra pessoa fazer. Alugaram uma casona nas montanhas de Seattle onde duas alpacas andavam de boa no quintal. Meu pai, que está chegando aos 80 anos, veio para dar a benção, chorei horrores. O garçom haitiano ficou incentivando todo mundo a beber tequila e eu capotei no sofá às 8 da noite. Minha irmã, no vestido de noiva, fez até campeonato de flexão no meio de todo mundo (chegaram até 60 e foi declarado empate, mas isso só porque ela não gosta de perder, e o noivo é gente fina). Era o casamento que se espera dessa mulher que só pode ser minha irmã, que é tenente num submarino da marinha, que faz fisicultura, ioga e triátlon, que fez a reforma da casa sem pedreiro, com as próprias mãos, e que dirige um conversível preto a mil por hora ouvindo música clássica quando vai pro trabalho. 

Pensei: só assim ela vai conseguir se apaixonar de fato, teria que ser de repente, inesperado, por um cara que tem um carro e bíceps gigantes, duas filhas pequenas e vontade de dar rolé com ela. Um cara que vai fazer uma casa onde ela possa cuidar do encanamento sozinha. Só assim para ela conseguir amar com o corpo todo, com força, com gentileza e vontade de ter histórias engraçadas para contar pros netos. Um dia, vai chegar um amor assim para você.

Mas, cara, juro: esse é o último casamento que eu fotografo na vida. Aqueles retratos com todas as tias e primos do universo não sei fazer.  

No próximo, você vai comigo.

Um beijo,

Autumn

Autumn Sonnichsen, 31 anos, nasceu na Califónia, mas tem o coração brasileiro. É fotógrafa, cozinheira e escritora. 

Crédito: Autumn Sonnichsen
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