Mindfulness no MIT
Há quem diga que as práticas de autoconhecimento, meditação e mindfulness são o substituto contemporâneo para a psicanálise
A essa altura não deve ser mais surpreendente para ninguém o fato de o Vale do Silício nos EUA ter tido sua origem ligada à contracultura dos anos 60. Movimentos como o dos hippies, cenas como a da new age e conceitos como a Era de Aquário, sem contar o consumo de alucinógenos, foram componentes importantes para o florescimento da tecnologia digital.
Basta lembrar o papel de Timothy Leary, escritor e psicanalista que estudou (e consumiu) a fundo o LSD. Ele é considerado um pioneiro da ideia de realidade virtual, e acreditava que a tecnologia seria capaz de criar novos ambientes artificiais para a existência humana. Grandes empresas de tecnologia, como Microsoft e Google, acham que ele estava certo. Todas apostam em interfaces de realidade virtual e realidade aumentada. Leary estaria orgulhoso do seu legado hoje.
Quem acha que esse aspecto “esotérico” da tecnologia não é mais tão relevante deve olhar com mais atenção. Há uma grande onda que não fica nada a dever à new age dos anos 60 relacionada ao universo da tecnologia nos dias de hoje. Sabe quais são algumas das atividades mais procuradas no MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts? Os cursos de meditação, mindfulness e autoconhecimento (awareness). Por exemplo, um desses cursos é ministrado por ninguém menos que Joi Ito, o diretor do invejado MIT Media Lab, um dos mais importantes centros de inovação do planeta. O curso se chama Princípios do Autoconhecimento e trata de temas como “fronteiras entre o eu e o outro”, “não dualidade” e “prazer e dor”. Na bibliografia há textos de Dalai Lama, Martin Buber e Hegel. O curso está sempre lotado.
Há quem diga que as práticas de autoconhecimento, meditação e mindfulness são o substituto contemporâneo para a psicanálise. Em um mundo cada vez mais complexo, a pressão sobre o indivíduo segue aumentando exponencialmente. Em face disso, as ferramentas da psicanálise mostram-se insatisfatórias. Entre outras razões, porque seu “tempo” vai se tornando lento demais para o ritmo da vida contemporânea.
Inovação e autoconhecimento
Esse cenário deveria despertar em nós um olhar mais generoso para atividades similares que acontecem aqui no Brasil. Nosso país sempre foi e continua a ser uma potência espiritual. Há cidades místicas espalhadas por todo o país, onde o autoconhecimento é buscado: São Lourenço e São Tomé das Letras, em Minas Gerais; Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro; Sete Cidades, no Piauí; Serra do Roncador, no Mato Grosso; e assim por diante. Ou o caso emblemático de Alto Paraíso, em Goiás. Lá, o guru Sri Prem Baba está ajudando a construir uma cidade sustentável dedicada ao autoconhecimento, em parceria com a consultoria McKinsey e outras instituições.
São lugares que atraem pessoas do mundo todo. Muitas delas talentos globais, ligados diretamente à tecnologia e à inovação. Esse circuito deveria ser apoiado, incentivado e reconhecido. O fato de termos potência espiritual pode nos ajudar a construir o caminho para a inovação.