Michael Jackson morreu...

Branco e triste, Michael Jackson morreu

por Redação em

por Augusto Wright

A imagem digna de tablóide que aparece nesta página tem um quê da Pietá de Michelângelo. Parece ter sido feita em nome da "estética", mas no fundo causa mais assombro que encantamento. Olhe só este nariz. Repare nos lábios. Diga que cor de pele é esta. Ninguém nasce assim.

O retrato que costumamos reconhecer como sendo de Michael Jackson esconde uma tragédia - e não é só a imprudência gritante de seus cirurgiões plásticos. Como a Pietá, a cena trágica remonta a um instante glorioso, mas sem final feliz. Se existem deuses do pop, eles estavam em festa quando Michael Joseph Jackson foi concebido. Cada célula de seu DNA recebeu um sopro de música e dança. Bastou a criança nascer para deixar isso claro.

Foi em 29 de agosto de 1958 que Joe Jackson, um metalúrgico de Gary, Indiana, e Katherine, então testemunha de Jeová, conheceram seu quinto filho. Àquela altura, Joe já vinha ruminando a idéia de formar um grupo vocal com os três garotos mais velhos. O sonho virou realidade pouco depois. Em 63, Michael já brilhava à frente dos quatro irmãos. Seu talento precoce rivalizaria com o de Mozart - caso o austríaco fosse negro, capaz de dançar com a eloquência de James Brown e cantar como a estrela do coro gospel.

Isso tudo, Michael fazia aos 5 anos. Aos 11, ele era o "rei do pop": as quatro primeiras músicas lançadas pelo Jackson 5 chegaram ao topo das paradas, fato único na história. A gravadora Motown, vendo que aquele fenômeno era obra do caçula, apostou na carreira solo já em 1971. E foi sozinho que, na década seguinte, Michael Jackson gravou o disco que bateria todos os recordes. 

Thriller, de 1982, superou a marca de 50 milhões de cópias, rendeu oito prêmios Grammy e deu origem ao clip que lidera todas as listas dos melhores já feitos. Se fosse um filme, o álbum seria um divisor de águas como Cidadão Kane, só que com a bilheteria de Star Wars e todos os Oscars de Titanic. E foi então que Michael Jackson morreu.

Terra do Nunca

Lembra-se do acidente durante a gravação de um comercial da Pepsi? Uma faísca teria posto fogo no gel que o cantor usava no cabelo. Bum! Houve uma explosão, incêndio, centenas de técnicos e milhares de figurantes em pânico. Não deu tempo para socorrer o astro. O jeito foi substituí-lo por um dos teimosos imitadores. A técnica já havia sido testada com sucesso naquele episódio envolvendo Paul McCartney (que não por acaso canta em Thriller), lembra? Bastava achar alguém que soubesse imitar seus passos, que pudesse cantar parecido e que tivesse uma ligeira queda por aberrações. Não é tão difícil. "Vamos criar factóides", berrou alguém do marketing.

A idéia era boa: desviar a atenção do público para as excentricidades do ícone, em vez de ficar esperando dele uma obra impossível, algo que superasse o apogeu. Elizabeth Taylor foi a fada madrinha. Chamaram até a filha de Elvis Presley, Lisa Marie, para se juntar à indústria de sensacionalismo que seria a vida do novo Michael. Depois vieram as criancinhas, a indenização milionária, o vitiligo, as máscaras e guarda-chuvas, o bebê sacudido na janela do hotel, o documentário que promete toda a verdade sobre o mito (e até um outro, seu "direito de resposta", também já exibido em todo o mundo). Música que é bom, nada. Faz sentido que Michael Jackson, o Artista do Milênio, viva na Terra do Nunca, não faz?

Testamento

Ouça os discos, assista aos vídeos e saiba por que Michael Jackson nunca vai morrer

Discos-solo

Com o Jackson 5

Documentário

Living with Michael Jackson: A Tonight Special (2003), dirigido por Julie Shaw e apresentado por Martin Bashir. No Brasil, foi exibido como A Vida Íntima de Michael Jackson, pela TV Bandeirantes

DVD

Michael Jackson - Video Greatest Hits - History (lançado em VHS em 1995)

Livro

Freak: Inside the Twisted World of Michael Jackson, de Nick Bishop (2003)

 

Créditos

Imagem principal: Ilustração Carlos Issa / Foto Getty Imagens

Arquivado em: Trip / Michael Jackson / Música