Mas isso sou eu!

Com o primeiro dinheiro que ganhou, Clarice Lispector foi à livraria. Mexi em todos os livros e nada me dizia nada! De repente, falei: ?Mas isso, isso sou eu!?. Era Bliss, de Katherine Mansfield. Estratégias perversas de narração ? nas quais o leitor é levado por um mundo bucólico, ingênuo e tão bom quanto ilusório ? são freqüentes em Katherine Mansfield (assim como em Clarice). Ao fim, cai a ilusão, desfaz-se o truque e fica evidente a incongruência entre o domínio do discurso e o dos fatos do mundo. O bom casamento, a boa moça, a boa velhinha, entre tantos outros estere-ótipos, não passam pelas histórias sem que tais idealizações desmoronem. [Tony Monti é autor de O Mentiroso ? Contos, 7 Letras]