Sobre fazer as coisas com paixão, por Luiz Mendes
Não é apaixonante saber que o fruto de sua luta vai possibilitar pessoas a crescerem e desenvolverem suas vidas?
As paixões, igual as manhãs, nunca são completas. Vivi tórridas paixões por várias mulheres e objetivos. Nada jamais me completou de verdade. Hoje sei que ninguém e nem projeto algum é suficiente para qualquer um de nós.
Acho que a única coisa completa que poderia nos apaixonar de verdade, sem nos frustrar, é a vida. Uma paixão pela vida inteira, como fizeram os grandes homens, como Martin Luther King, Gandhi, Mandela, Mujica, Albert Schweitzer ou, recuando no tempo, Francisco de Assis. Mas, coitados de nós, pequenos que somos. Não conseguimos essa plenitude de sentimentos e visão. Então a vida é muito para nós, tememos que nos engolfe, esganados que somos. Escolhemos um nicho e por ali nos fazemos. Já agora adaptados e conformados com a incompletude, o nos resta é essa angustiazinha fina a nos agulhar quando estamos sós.
O que fazer? Se estivéssemos conversando pessoalmente eu diria: e você vem perguntar para mim? Mal sei por meus pés em cima dos meus passos, como poderia responder? Sim, porque são mesmo infinitas as possibilidades de quem quer fazer. O problema é que alguma coisa é sempre pouco e o todo não conseguimos abarcar.
Posso dizer como tento lidar como isso. Não me prendo a nichos. Alguns querem me tornar especialista sobre prisão, dado ao meu passado. Outros, pensando em meu presente, escritor. Tem quem queira que eu seja palestrante ou até ator. Agora que estou entrando de sola no teatro (já tenho duas peças), invadindo roteiros e telas de cinema, provavelmente pensarão que esta deve ser a direção. E eu sei que não é, mas que é também.
A velocidade com que a vida vai tornando tudo obsoleto é fulminante. Parece que estamos em terreno líquido, em que não podemos fincar raízes. Por isso vou fazendo tudo o que aparece e me sinto competente. Claro, na maioria das vezes, chego inseguro, tateando. Assim que sinto que posso, vou expandindo. Sigo curioso, voraz, como uma esponja a absorver tanto quanto posso.
É uma outra paixão. E asseguro que da mesma intensidade de todas as outras. Conhecer, admirar, envolver e então, apaixonar. E o que estou vivendo é mais interessante ainda. Percebo que a cada nova paixão, as anteriores não diminuem. Continuo apaixonado por elas também. Ultimamente ando ligado em projetos de empoderamento para homens e garotos aprisionados. Projetos para escolas, empresas, ONGs, e a tudo que essas novas ideias me levam. Tento me esforçar ao máximo e absorver tudo o que surja. Mas continuo amando escrever, falar em público, fazer oficinas e estou aberto a tudo que surja de novidade. Acho que serei um eterno aprendiz.
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E continuo fazendo tudo apaixonadamente. Quase sempre me emociono muito e o melhor; quem me lê ou ouve, se emociona também. É quase uma cartase. É sério porque a educação, alimentação e cuidado para pessoas que amo dependem disso. Não é apaixonante saber que o fruto de sua luta vai possibilitar pessoas a crescerem e desenvolverem suas vidas? É mais que poético. E qualquer trabalhador, por mais humilde que seja, pode afirmar isso de boca cheia.
Viver, muitas vezes, é revolver. Observar passos e escombros por nós deixados e reconstruir. O momento urge, mas não insta. Então cerro os punhos, travo os dentes e sigo em frente em busca de algo ou alguém que me comova o suficiente. No fundo, tudo o que quero é compreender, gostar e fazer durar.