Liberdade de imprensa

Conheça jornalistas premiados pela UNESCO que viraram símbolo da luta pela informação livre

por Luiz Filipe Tavares em

Ao redor do mundo, o dia 3 de maio é um evento comemorativo para os trabalhadores da imprensa. Neste dia é comemorado o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, uma data para marcar a importância da disseminação da informação livre e sua capacidade libertadora de mostrar as coisas como elas são mesmo que isso signifique fazer alguns inimigos no caminho.

Nesta data, desde 1997, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) premia anualmente um jornalista por seu trabalho em favor da informação livre e da liberdade de imprensa com o troféu Guillermo Cano World Press Freedom Prize. O prêmio é assim batizado em homenagem ao repórter colombiano Guillermo Cano Isaza, editor do jornal El Espectador, assassinado por dois pistoleiros ligados aos carteis do país depois de anos noticiando as operações da máfia da cocaína latinoamericana.

O vencedor do prêmio anual é escolhido por um juri formado de 14 trabalhadores da imprensa de diversos países do globo. Os nomes dos jurados são indicados para a UNESCO por ONGs trabalhando em nome da liberdade de imprensa e pelos estados membros da organização internacional que realiza a premiação.

Na sequência você conhece um pouco sobre os primeiros cinco vencedores do prêmio Guillermo Cano World Press Freedom. Aproveite para saber quem são esses herois do jornalismo e como eles fizeram história lutando pelo bem mais precioso da mídia internacional: a liberdade de imprensa.

Veja nossa lista.

1997 - Gao Yu (China)

Bandeira de luta: Liberdade de expressão

Nascida em 44 e no jornalismo desde 79, Gao foi um dos nom es mais importantes da imprensa revolucionária chinesa no fim dos anos 80. Editora do Economics Weekly de Hong Kong desde 88, a jornalista começou a ganhar destaque com seus textos inflamatórios antes e durante os protestos da praça Tinanmen, tendo sido marcada como "inimiga do povo" pelo partido comunista chinês. Um de seus artigos sobre a violência dos confrontos entre militares e estudantes nas ruas de beijing foi chamado de "um programa político para turbulência e rebelião" pelo próprio prefeito da cidade.

Gao acabou detida em 1989, logo após o fim dos conflitos nas ruias da capital chinesa. Permaneceu presa por 15 meses sem nenhuma acusação formal e acabou libertada em condicional por conta de problemas de saúde. Ela continuou trabalhando até 1993, quando foi presa novamente e condenada a seis anos de prisão por ter publicado segredos de estado em suas matérias para jornais chineses. Ficou detida até 1999, quando foi novamente libertada em condicional por problemas de saúde. 

 

1998 - Chris Anyanwu (Nigéria)

Bandeira de luta: combate à repressão

A jornalista nigeriana formada nos EUA pela Universidade do Missouri foi um dos mais importantes nomes do jornalismo africano na década de 90. Logo no começo da década, ela assumiu o posto de editora geral da revista The Sunday Magazine, especializada em política nacional da Nigéria. Em 1995, depois de um golpe de estado mal sucedido no país, Chris acabou presa ao lado de dexenas de outros jornalistas nigerianos, acusados de terem tornado-se acessórios de fatos para traição. 

Em julgamento militar secreto, Anyanwu foi condenada à prisão perpétua por suas posições contrárias ao regime de Sani Abacha. Em outubro de 1995, a pena foi reduzida para 15 anos depois de pressões internacionais. Presa como criminosa comum na prisão de Gombe, a jornalista quase perdeu a visão completamente devido às péssimas condições da habitação da prisão nigeriana. Anyanwu só foi libertada em 1998, depois da morte do ditador Abacha. Hoje ela concorre à reeleição para o Senado nigeriano depois de um muito elogiado primeiro mandato.

 

1999 - Jesús Blancornelas (México)

Bandeira de luta: Corrupção

Visionário do jornalismo investigativo, nascido em San Luis Potosí, coração do México, Blancornelas foi o fundador da revista Zeta (1980), publicada até hoje na América Central. Desde o lançamento da publicação, o nome do jornalista virou sinônimo no combate à corrupção política no México. Foi ele quem encontrou conexões entre governantes mexicanos e o cartel de drogas de Tijuana, levantando suspeitas e provas contra diversos administradores públicos e contrabandistas de narcóticos e armas que operavam (e ainda operam) no país.

Depois de vários atentantados contra a sua vida, especialmente um acontecido em novembro de 1997 que o deixou seriamente ferido e acabou matando seu guarda-costas, Blancornelas virou sinônimo da batalha pela liberdade de imprensa no país. Perseguido pelo governo e pelos carteis, o jornalista continuou trabalhando sem descansar por sua causa, até o dia de sua morte. Jesús morreu em novembro de 2006, vítima de um câncer estomacal. Até hoje, seu nome é sinônimo de responsabilidade no jornalismo do país e seu legado continua vivo na imprensa mexicana

 

2000 - Nizar Nayyouf (Síria)

Bandeira de luta: direitos humanos

Ele foi He secretário geral do Comitê de Defesa das Liberdades Democráticas e dos Direitos Humanos na Síria, antes do órgão ser desligado pelo regime ditatorial instalado no país. Na época, escrevendo para o periódico Sawt al-Democratiyya (A voz da democracia), Nizar acabou preso em 1992 e sentenciado a 10 anos de prisão e trabalhos forçados por ser integrante de grupos humanitários e por disseminar aquilo que o governo local chamou de "informações falsas". Preso, torturado diariamente e mantido na solitária, Nayyouf quase não sobreviveu à pena, ficando com a saúde muito debilitada.

Após receber o prêmio Guillermo Cano, toda a atenção da mídia internacional e dos grupos de direitos humanos se voltou para o regíme Sírio, que se viu obrigado a cortar a pena de Nizar em mais de um ano e libertá-lo, cedendo enfim às pressões internacionais. Hoje, o nome de Nizar aparece ligado até ao Wikileaks, onde ele aparece como um exemplo a ser seguido por outros jornalistas que vivem sob regimes ditatoriais islâmicos no Oriente Médio. Em 2002, ele conseguiu asilo político na França e enfim conseguiu deixar a Síria. Mesmo depois de sua saída do país, o regime de Bashar-al-Assad continua perseguindo a família e os conhecidos do jornalista

2001 - Win Tin (Myanmar)

Bandeira de luta: democracia

Antes de ser jornalista, Win era um dos líderes do partido da Liga Nacional da Democracia no final da década de 80. Seus textos copmeçaram a circular por jornais do país em 1987, chamando o povo do país asiático para caminhar em direção à democracia. Tin acabou preso em julho de 1989 por "propaganda anti-governamental". Sua sentença foi ampliada para 20 anos de detenção depois que Win tentou fazer cointato com as Nações Unidas para informar que estavam ocorrendo violações aos direitos humanos em prisões birmanesas. 

Depois de 19 anos atrás das grades, aos 79 anos de idade, o escritor e ativista foi enfim libertado em Myanmar. Quando deixou a prisão, Win voltou direto para o centro de operações da Liga Nacional da Democracia e foi capaz de reorganizar o partido que um dia comandou. Para os grupos de direitos civis internacionais, essa foi uma das maiores vitórias possíveis. Nem mesmo 20 anos de tortura e solitária foram capazes de quebrar o espírito desse heroi nacional.

 

 

 

2002 - Geoffrey Nyarota (Zimbábue)

Bandeira de luta: Corrupção/racismo

Um dos primeiros repórteres negros de toda a região da antiga Rodésia, Geoffrey aproveitou a primeira chance que teve para trabalhar em um jornal e acabou tornando-se a mais importante figura da mídia do Zimbábue. Descobridor do escândalo Willowgate, que relacionava políticos do governo local à compra e venda superfaturada de veículos oficiais por todo o país. As denúncias, apesar de verdadeiras, acabaram por fazê-lo perder o emprego no jornal The Herald. Mas a repercussão positiva do caso na imprensa estrangeira acabou garantindo um lugar para ele como editor do Daily News, o único jornal independente do país. 

Hoje afastado do jornalismo investigativo após ser misteriosamente demitido do Daily Star em 2002, Nyarota se juntou à Fundação Nieman de Jornalismo da universidade americana de Harvard. Já o Daily Star foi fechado em definitivo pelo governo do Zimbábue em setembro de 2003, menos de um ano depois da saída de Geoffrey do país. Enquanto esteve à frente do jornal, ele fo ipreso seis vezes. Em 2000, ainda sobreviveu a uma tentativa de assassinato quando oppositores do jornal colocaram bombas na sala de prensas do periódico.

 

A lista completa de vencedores você vê no site da UNESCO (em inglês)

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