Kurt Vile

Destaque da nova cena indie americana, guitarrista fala sobre shows com Thurston Moore no Brasil, vida na estrada e prazeres literários

por Luiz Filipe Tavares em

Kurt Vile pode até não ser conhecido no Brasil. Mas em 2011, a frente dos Violators, o guitarrista e compositor tornou-se referência na nova geração do rock alternativo americano. Membro honorário do War on Drugs, fundado por seu grande amigo Adam Granduciel, ele começou a despontar no cenário internacional em 2009 com seu terceiro disco solo, Childish Prodigy, o primeiro de sua carreira a ser lançado pela influente Matador Records

Em 2011, com Smoke Ring For My Halo, ele tornou-se um astro indie nos Estados Unidos, embarcando e uma longa turnê que se estende até agosto deste ano e passa por Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro nos dias 11, 12 e 13 de abril, respectivamente. Por aqui, todos os shows da etapa brasileira contam com um atrativo extra: a presença de Thurston Moore, guitarrista do lendário Sonic Youth, fechando as três noites no Brasil.

Além de ser aclamado pela crítica, Vile caiu também na boca de grandes nomes do rock internacional que nunca cansam de rasgar uma seda para o guitarrista. Kim Gordon, outra integrante do grupo de Nova York comandado por Moore, disse em entrevista ao Women's Wear Daily que não conseguia parar de ouvir o último álbum de Kurt. Quem também não poupa elogios ao compositor é o pessoal do Animal Collective, queridinhos da música experimental dos EUA, que escolheram Vile para participar do festival All Tomorrow Parties curado pela banda em maio do ano passado. 

Entre um show e outro da apertada turnê, conseguimos falar com Kurt pelo telefone e discutimos a vida na estrada, a expectativa para a turnê brasileira, os altos e baixos das longas turnês e descobrimos os hábitos de leitura que mantêem o compositor, nas palavras do próprio, “longe de encrencas”.

Trip - Antes de mais nada, onde você está nesse momento?
Kurt Vile -
Agora eu estou aqui na minha van. A gente terminou ontem uma pequena turnê aqui na Carolina do Norte e estamos dirigindo de volta para a Filadélfia. Mas eu não estou dirigindo, então pode ficar tranquilo [risos].

 

"Atualmente tenho lido bastante. Tenho tentado ler o máximo possível e ficar longe de qualquer encrenca..."

 

Menos mal! Agora, você está em turnê sem parar a quase um ano. Como a estrada tem te tratado? Você gosta de excursionar? 
Sim, eu gosto de viajar. Mas fazer turnê, como todo mundo já sabe hoje em dia, não é só diversão. Definitivamente você passa por períodos negros na estrada. Mas de um modo geral eu sinto que as excursões vão sempre ficando melhores com o passar do tempo. Hoje a banda está bem mais alinhada, todo mundo está tocando melhor, a camaradagem tem crescido a cada dia, seja nos piores ou nos melhores momentos. 

E dá pra apontar qual foi o pior momento da turnê? O pior show?
Apontar um só é até difícil [gargalhadas]. Já tivemos alguns shows difíceis nessa turnê sim. Mas também tem uma coisa: muitas vezes nós pensamos que o show foi ruim, mas muita gente que estava na plateia diz que adorou. Por isso eu me sinto até grato a cada vez que a gente descobre que um show foi bom [mais risos]. A gente tem a vantagem de fazer um som com o qual conseguimos passar batido por situações difíceis, como lugares com som ruim e etc... O público até gosta do nosso jeito meio desleixado de tocar. 

 

E o melhor?
Bom, ontem a noite aqui na Carolina do Norte a gente fez nosso show mais profissional em um bom tempo. Estamos bem felizes com isso. Na noite anterior a gente também fez um show legal, mas acho que o lugar tinha mais fãs de punk rock do que qualquer outra coisa [gargalhadas]. Agora eu estou mais com esses últimos shows que fizemos na cabeça, especialmente porque o show de ontem foi muito bom. Então esse mais recente (no The Grey Eagle em Asheville, Carolina do Norte) é meu favorito atualmente.

Depois de tanto tempo viajando, o que você faz pra relaxar durante a turnê? 
Atualmente tenho lido bastante. Tenho tentado ler o máximo possível e ficar longe de qualquer encrenca...

É. Às vezes isso pode ser difícil...
Ô, se é! [risos]. Bom, mas você entende. Eu tenho uma profissão em que toda noite aparece uma festa ou algo para fazer depois de um show. E claro que essas são coisas que eu gosto. Mas tenho procurado me preservar. 

E o que você tem lido?
Como eu te disse, tenho lido grandes livros ultimamente. Um dos últimos que li foi o Junkie, de William S. Burroughs, que é um dos meus autores favoritos. Li também um livro bem interessante sobre a cena da Costa Oeste entre os anos 60 e 80 chamado Hotel California (de Barney Hoskyns). Quando você me ligou eu estava lendo esse livro usado que eu comprei esses dias, Popism: The Warhol Sixties, uma autobiografia do Andy Warhol. É bem legal, é meio que a coluna de fofocas definitiva da cena hipster de arte nos anos 60 [gargalhadas]. O cara viu tudo acontecer, então nada melhor que ler sobre tudo isso nas palavras dele. Eu recomendo. 

Do que você mais sente falta quando está na estrada?
Essa é muito fácil. Morro de saudades da minha filha e da minha mulher.

 

"Sou muito fã do Sonic Youth. Mas quem não é? [gargalhadas]"

 

Você está animado de vir ao Brasil pela primeira vez? 
Com certeza! Alguns amigos me contaram coisas de suas viagens ao Brasil e eu já sei algumas coisas, todo mundo sempre fala muito do Brasil, mas sei que será tudo meio novo para mim. Eu não sei tanto assim. Mas eu estou ansioso pra chegar e ver com os meus próprios olhos, é assim que eu gosto de descobrir os lugares, através da experiência.

E falando em experiência, você dividirá o palco aqui com uma lenda viva, um cara que praticamente reinventou a guitarra elétrica. Você já conhece o Thurston Moore? É Fã do Sonic Youth?
Sou muito fã do Sonic Youth. Mas quem não é? [gargalhadas]. Mas eu conheço o Thurston Moore sim, já nos encontramos por aí um bom número de vezes. Ele é um cara bem legal, inventivo e que ainda tem muito som para mostrar. É sempre muito excitante dividir o palco com ele. 

Smoke Ring For My Halo é seu álbum mais bem recebido pela imprensa internacional em toda sua carreira. Como você vê a passagem dessas músicas para a versão ao vivo? Elas tem funcionado bem no palco?
Com certeza, tenho uma sensação de dever cumprido. No palco as músicas estão ganhando uma roupagem mais rock n’ roll, mesmo naquelas que são mais melancólicas no disco. Mas você sabe como é, quando nos apresentamos ao vivo sempre acabamos dando um pouco mais de energia para a música. A gente tenta até não exagerar no rock algumas vezes [risos]. Mas não tem jeito, as músicas sempre acabam pegando uma energia a mais no palco. No plano geral eu diria que os shows sempre acabam deixando as músicas mais roqueiras mesmo. 

E esse é seu álbum favorito até agora? 
Não sei se é meu favorito, mas sem dúvida é o mais profissional de todos [risos]. Não, mas falando sério. Acho que Smoke Ring... é um disco coeso. Eu gosto muito e tenho orgulho de todos os meus discos de formas diferentes. Eles tem energias bem diversas e representam momentos totalmente diferentes da minha vida. Mas claro, eu gosto bastante deste novo disco, é o que está mais quente na cabeça. 

 

Qual o próximo passo depois da turnê? Vem aí disco novo? Disco com alguma banda?
Ah, vem aí mais um disco solo. Eu não toco mais efetivamente com o War on Drugs. Quero dizer, não que eu não participaria de um show ou de uma gravação, mas essa é a banda do meu amigo Adam (Granduciel). Ele vive tocando comigo, participando de shows da minha banda, mas ambos queremos nos concentrar em nosso próprio trabalho agora. Eu e os Violators já estamos trabalhando no meu novo disco solo. Agora mais para o fim da primavera (do hemisfério norte) nós voltaremos a fazer uma turnê mais corrida, então já devemos gravar alguma coisa no próximo mês. Assim poderei ficar um tempo em casa com a minha família.

Você consegue compor na estrada ou precisa de um tempo sossegado?
Eu consigo sim compor durante as turnês. Nessa última, na verdade, eu não escrevi quase nada. Nosso cronograma tem estado bem apertado entre compromissos musicais e familiares. Mas eu não tenho muito escolha, eu meio que preciso escrever quando estou na estrada. 

Você acha que suas canções mudam quando você compõe em casa e na estrada? Quero dizer, você acha que o clima das suas canções muda dependendo de onde você escreve?
Com certeza. Quando eu escrevo em casa eu me sinto bem a vontade, me sinto focado completamente na música. No meu modo de ver, tendo a escrever de uma forma mais introspectiva quando estou em casa. Não que eu não seja introspectivo na estrada, mas acho que todo o espaço ao meu redor, com todo o mundo em volta de mim, muda o clima da canção para algo mais “aberto”, entre aspas. Eu sei que parece abstrato, mas eu vejo minha composição assim mesmo, do meu jeito [ri].

Pra fechar: o que seus fãs brasileiros podem esperar dos shows que você fará por aqui?
Os brasileiros podem esperar um show de rock n’ roll cheio de energia, isso em primeiro lugar. Fazemos segmentos bem barulhentos e vamos trazer canções bem bonitas para equilibrar [risos]

Vai lá: Thurston Moore (ex-Sonic Youth) + Kurt Vile em Porto Alegre
Quando: 11/04, quarta, 22h
Onde: Bar Opinião - Rua José do Patrocínio, 834 – Cidade Baixa, Porto Alegre
Quanto: de R$50 a R$80
Ingressos: www.opiniaoingressos.com.br
Site: www.opiniao.com.br

Vai lá: Thurston Moore (ex-Sonic Youth) + Kurt Vile em São Paulo
Quando: 12/04, quinta, 22h
Onde: Cine Joia - Praça Carlos Gomes, 82 - Liberdade, São Paulo
Quanto: de R$70 a R$140
Ingressos: http://cinejoia.tv/joia
Site: http://cinejoia.tv

Vai lá: Thurston Moore (ex-Sonic Youth) + Kurt Vile no Rio de Janeiro
Quando: 13/04, sexta, 22h
Onde: Circo Voador - Rua dos Arcos, s/nº - Lapa, Rio de Janeiro
Quanto: de R$70 a R$140
Ingressos: www.ingresso.com.br
Site: www.circovoador.com.br

Site: www.kurtvile.com

Crédito: Divulgação/ Matador
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Crédito: Divulgação
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