Jonathan Poneman
O fundador da Sub Pop, selo que lançou o Nirvana, fala sobre o festival da gravadora no Brasil
A Sub Pop sofre com o paradoxo do cânone. O selo norte-americano lançou, em 1989, “Bleach”, o primeiro disco do Nirvana. Ídolo criado, o último deus do rock seria posto em “Nevermind” e, mesmo deposto, sua aura nunca se desgrudaria da gravadora que calcou o grunge de Seattle.
Embora fizesse a anunciação do gênero, a Sub Pop nunca foi profeta de nada -- no máximo, um encontro de fiéis do som. “Antes de sermos uma gravadora, somos um grupo de pessoas que ama música”, afirma Jonathan Poneman, um dos fundadores do selo, em entrevista à revista Trip -- na qual prometemos a nós mesmos não mencionar o Nirvana.
Sim, pois, além de Kurt Cobain e amigos, nomes como Soundgarden, Sonic Youth e Beach House já passaram pelas mãos da gravadora. Um deles, o Mudhoney, vem ao Brasil no dia 15 de maio como parte do Sub Pop Festival, evento que acontece em São Paulo. Completam a escalação do palco os nem tão novatos The Obits e os calouros do Metz.
Sobre os canadenses, Poneman rasga elogios. “Nada que eu disser se compara à experiência de ver o Metz ao vivo”. Ele faz jus às críticas que o primeiro álbum da banda tem recebido, de blogs obscuros a veículos renomados. Seu grindcore espaçado tem vitalidade comparável ao Nirvana. Espera lá! Prometemos e cumprimos: não falamos de Nirvana na entrevista.
Por que vocês estão fazendo esse festival no Brasil? Jonathan Poneman: Estamos fazendo esse festival no Brasil porque aí as pessoas amam rock. Pela minha experiência, os brasileiros estão muito empolgados com o tipo de rock que a Sub Pop promove. Não dá pra dizer que o Brasil é um país melhor que os Estados Unidos, existem problemas e vantagens como qualquer lugar no mundo, mas tenho de dizer que o brasileiros tem um gosto musical melhor!
Você tem certeza disso? Porque muitas pessoas aqui reclamam da música, dizem que só fazemos música ruim. Acho que todo país tem música ruim, mas também tem muita música boa. A paixão dos brasileiros pela música é diferente. O público do Brasil que ouve artistas da Sub Pop, em especial o Mudhoney, é muito legal e inspirador. Todas as nossas bandas gostam de tocar no Brasil porque o público é apaixonado, eles gostam mesmo da música.
Entre tantos selos, a Sub Pop se destaca por ter uma marca original. Vocês estão promovendo um festival com o nome do selo, mas não existem tantas coisas assim por aqui. Como se deu essa força na marca? Bruce e eu, quando começamos a gravadora em 1988, olhamos gravadoras dos anos 60, época em que crescemos, como Motown e Atlantic, e mesmo dos anos 70, como a SST de Los Angeles e a Twin/Tone de Minneapolis. Muitos selos independentes eram representativos no seu som, na sua perspectiva. A Sub Pop quis fazer a mesma coisa. Nós vimos que a música ao nosso redor precisava ser ouvida, assim como outros elementos, como Jack Endino como produtor e Charles Peters como fotógrafo. O que aconteceu com a Sub Pop não é bem a criação de uma marca, mas um jeito de fazer.
Faz parte desse jeito também aquelas conhecidas cartas de recusa para bandas, as “Dear Loser Letters”. Você se arrepende de ter recusado alguma dos artistas? Não, a gente não se arrepende de nada. Houve alguns erros, mas a vida é assim!
25 anos após o boom do grunge, você ainda acha que Seattle é uma cidade importante para a música? Por quê? Acho que Seattle é uma grande cidade, mas não é mais a cidade que foi no fim dos 80 e começo dos 90. Agora existe a Amazon, Starbucks, Microsoft, enfim, grandes companhias multinacionais que trouxeram muita atenção para Seattle, e antes a cidade era famosa por causa do rock, porque não era cara para se vive. Ainda existe uma comunidade muito legal de músicos, ouvintes, distribuidores, rádios, lojas de discos e até ótimas bandas. Seattle ainda é uma grande cidade.
E vocês tem, atualmente, o melhor time da NFL... Sim! O melhor! Eu torço pelos Seahawks, fui ao Superbowl. Foi chato, mas da melhor maneira possível, porque a gente acabou com os Broncos.
Você mencionou essas várias empresas de tecnologia e eu gostaria de saber como vocês lidam com as mudanças que elas trazem pra música. O que vocês tem feito em relação aos vários selos independentes que tem surgido na internet, que às vezes não passam de um site e uma conta no SoundCloud? Antes de sermos uma gravadora, somos um grupo de pessoas que ama música. Sejam pessoas no SoundCloud, sejam pessoas no Spotify, o importante é que a música seja boa. Se a música for boa, eu vou ouvir. Se a música for ruim, eu não vou ouvir. A música tem de nos agradar. Nós não vemos a internet como competição, mas sim como algo que nos traz benefício. Independente disso, se a música for um lixo, vamos jogá-la fora. A maiora das músicas que lançamos representa algo para nós. Obviamente, as pessoas tem diferentes gostos musicais. Mesmo internamente, existem poucas bandas que todos aqui gostam. Provavelmente eu sou um dos poucos que sou fã de tudo que lançamos.
Tantos anos após a fundação da Sub Pop, você já desenvolveu uma técnica para saber o que é ruim e o que é bom? Depende muito. Como seres humanos, temos humores, gostos. Às vezes você quer beber água, algumas vezes você quer beber gim. Às vezes eu quero ouvir hard rock, às vezes eu quero ouvir metal. Depende de ouvir a coisa certa na hora certa fazendo uma análise pessoal que não seja somente isso é bom ou isso é ruim. Ninguém está certo todas as vezes, mas você sempre está certo no que funciona para você como empresa. Temos um grupo de pessoas que ouvem muita música e tem muitas conversas a respeito disso. Às vezes aparecem bandas como Metz, que é evidentemente ótima, e você não precisa discutir tanto a respeito. Mas algumas outras bandas não são tão óbvias de primeira, mas se você ouve por um tempo você pensa: cacete! É muito bom!
Afinal, por que vocês escolheram o Metz para vir ao Brasil? Embora eles tenham recebido excelentes críticas, eles são uma banda nova e não são muito conhecidos por aqui. Acho que quando as pessoas virem Metz no palco elas vão entender por que eles estão ali. Eles são uma das grandes bandas de rock de hoje em dia! Acho que tem uma coisa única neles. Nada que eu disser se compara à experiência de vê-los ao vivo. Você precisa confiar em mim.