por Kátia Lessa
Trip #175

Entenda a mente de um dos mais inquietos atletas do planeta: Laird Hamilton

Pioneiro em várias modalidades de esporte com prancha e sinônimo de carcaça ed esempenho perfeitos em situações extremas, Laird Hamilton inventa mais uma. Conheça o SeaBob, seu novo brinquedo, e entenda a mente de um dos mais inquietos atletas do planeta

Quando Laird Hamilton fica de saco cheio de um esporte, ele não passa para outro, cria um novo. O californiano radicado em Oahu, North Shore havaiano, já nasceu experimentando. A mãe, a também surfista Joann, deu à luz em uma "bathysphere", uma espécia de cápsula com gravidade reduzida, como parte de um programa de pesquisa da UC Medica Center em São Francisco. Não se sabe ao certo se esse é o segredo do corpo e da performance de super-homem do rapaz.

Quando pergunto sobre o nascimento, ele desconversa: "Não sei detalhes sobre isso. Eu era muito novo para lembrar de alguma coisa", manda em tom de brincadeira.

Depois de criar o town-in, modalidade na qual o surfista é colocado na onda com o auxílio de um jet ski, e o foilboard (ou airboard), no qual uma quilha é projetada para manter a prancha do lenço de água, o Professor Pardar do surf... Advinha? Inventou mais uma. A novidade ainda não tem nome definitivo, mas vem sendo chamada pela denominação do aparelho usado: o SeaBob, uma espécia de propulsor emq ue o atleta se agarra com as mãos e com o qual pode submergir. "O SeaBob é outra disciplina. Uma nova forma de aproveitar o oceano e curtir as ondas. Eu pratiquei o foilboard, o bodysurf e outras coisas que envolvem dinâmica, mas sempre sonhei em ter uma embarcação em que pudesse navegar apenas sobre as águas, mas também através delas. É como se isso fosse um ensaio do que pode vir a acontecer no futuro", explica.

 

 GOLFINHO MOTORIZADO
Para entender o SeaBob, basta observar o comportamento dos golfinhos na praia. Quem já reparou sabe que ele não ficam nem acima nem abaixo da onda, e sim no interior da parede de água; eventualmente podem atravessá-la e sair como num jacaré, ou até mesmo mergulhar e sair por baixo ou mais na frente da onda em alta velocidade. "Para praticar basta uma onda de um pé e um oceano com águas muito claras para que sua visibilidade seja perfeita", conta Laird, em entrevista à Trip por e-mail. Construído na Alemanha, o aparelho foi projetado por designers da Porsche e originalmente usado por mergulhadores e, principalmente, na exploração topográfica marinha. "É como se pudéssemos pegar um jacaré vindo por baixo d´água. Esse propulsor é como os já conhecidos e usados no mergulho, mas é mais rápido do que qualquer outro já construído antes e bastante caro. Como a água é 100 vezes mais densa do que o ar, o resultado é que, ao navegar a 10 milhas por hora debaixo d´água, você tem a sensação de estar navegando a 100 milhas por hora. Em determinado momento seu corpo é incapaz de ultrapassar certa velocidade sem quebrar, então grande parte do meu trabalho é pensar nessa hidrodinâmica, em como trabalhar isso em relação ao nosso corpo, para que ele não seja destruído", explica.

Habituado a botar pra baixo as maiores ondas do planeta como quem toma uma xícara de café, Laird é conhecido pelo desempenho genial em esportes de prancha e pelos feitos incríveis dentro da água, sempre levados ao extremo. Para ele, o único limite dentro de um esporte que pratica não está no tamanho da onda ou na altura de uma montanha, mas sim dentro dele mesmo: "Troco de esporte quando começo a ficar entendiado. Pode parecer algo estranho para quem olha tudo isso de fora, tanta adrenalina... mas, quando você se habitua a pegar ondas gigantescas e não sente mais aquele frio na barriga que sentia antes, está na hora de mudar alguma coisa. Eu sou o meu limite", explica.

A VOLTA DO FRIO NA BARRIGA
O pai da criação de Laird foi escolhido por ele na praia e acabou casando com sua mãe em seguida (o biológico abandonou a família antes de seu nascimento). Bill Hamilton, uma lenda do surf dos anos 60, conta que o filho era destemido desde criança: "Ele começou a surfar aos 3 anos e aos 8 pulou em um cachoeira da altura de 60 pés. Ele nasceu para viver a vida ao extremo desde o primeiro dia. Apenas olhou pra mim e pulou sem vacilar", lembra. Crescer com um dos melhores picos de surf e um paraíso natural no quintal de casa foi o que ajudou o garoto a começar seus experimentos. "Eu vivia em uma área um tanto remota. então era forçado a ser criativo e usar a imaginação manipulando apenas os materiais que tinah por perto. E eles não eram muitos, na maioria das vezes apenas pedaços de madeira e pedras. Na escola, a matemática sempre foi a minha melhor disciplina, eu tinha facilidade, então sempre usei esse pensamento numérico como um facilitador de entendimento na ciência das coisas", conta.

O novo brinquedo de Laird já está rodando as ondas havaianas a pleno vapor, mas ainda não está totalmente pronto. “Quando resolvo entrar de cabeça nesses trabalhos, gosto de me envolver desde a ideia até a prática, o que significa muita pesquisa e desenvolvimento. Pensar, montar e testar exaustivamente. O que estou fazendo agora é modificar uma peça que foi desenhada para outro objetivo, por isso o trabalho é conceitual e depois prático, na medida em que tenho que me jogar no mar e fazer todos os ajustes. E, quando finalmente funcionar como eu imagino, o frio na barriga vai voltar”, conclui o cientista do mar.

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