Isto não é um poema; é um urinol
Animal Anônimo xinga elogiando
Animal Anônimo, Joca Reiners Terron
Ciência do Acidente (terron@uol.com.br), 112 págs., R$ 20
Não é coincidência. Animal Anônimo (Ciência do Acidente, 112 págs.) do editor, ex-vocalista e ficcionista Joca Reiners Terron chega no mesmo vôo livreiro de O anônimo célebre, de Ignácio de Loyola Brandão. Ambos versam sobre protagonistas ocultos, sem identidade, explorando o desconhecido de cada um.
Afinal, exaltar as virtudes hoje é a pior vaidade. Melhor vale tirar proveito dos defeitos inconscientes. Terron apresenta uma urbanidade caótica, barulhenta. Poesia terrorista, do medo, dos ruídos e do inferno inventado. Percorre-se viadutos, aeroportos, engarrafamentos e estádios em busca... do nada (no meio do caminho: o vento fuma maconha, o sexo procura álibis e a tevê oscila entre King Kong e Discovery).
O livro arma desastres e desencontros com irreverência. Uma amostra está no hilariante amor moderno. Um homem e uma mulher se apaixonam depois de trocar de sexo em clínica suíça. O autor é debochado, desbocado, escatológico, mas sem o entusiasmo da blasfêmia de Glauco Mattoso. Xinga com naturalidade, sempre em tom calmo. Parece que está elogiando. Seus palavrões têm refinamento. Orbitam dentro da mais transgressiva literatura, fazendo alusões às artes plásticas e autores experimentais como E.E. Cummings.
Quinze minutos de fama nada representam diante dos cinquenta e cinco prazeres criminosos e inonimáveis oferecidos por Terron.
Fabrício Carpinejar é poeta, autor de Biografia de uma Árvore