Isso é arte

Todos somos artistas. Nossas casas são museus. Viver é uma experiência artística

por Ricardo Guimarães em

 Caro Paulo,

Tenho me encantado com a descoberta da relação íntima entre arte e amor. E, ao mesmo tempo, tenho me indignado com o quanto nossa vida cotidiana está longe tanto de um quanto de outro.

Descobri que amor não é apenas o sentimento entre os humanos. Antes disso, amor é a energia que mantém os sistemas vivos funcionando em tensa evolução na natureza.

Sim, o amor é o princípio organizador da natureza que, por exemplo, impede os planetas de se trombarem e promove a aproximação do hidrogênio e do oxigênio para fazer a valiosíssima água. Einstein chamou essa energia de força de atração.

Esse princípio organizador da natureza produz efeitos estéticos tão incríveis que poderiam ter sido produzidos por Spielbergs talentosíssimos, com seus fantásticos recursos tecnológicos desenvolvidos a partir de estudos científicos profundos, concluídos da atenta observação dos fenômenos da... da... da... natureza!

Aí está, no meio desse parágrafo tão grande, a arte, atividade exclusiva de humanos, reproduzindo a natureza como que tentando capturar uma beleza e uma ciência que estão além de nossa mais poderosa imaginação. Dizem os estudiosos que isso é arte, deve ser, sempre será.

Mas não acho que a arte apenas imita a vida para nos encantar e nos lembrar quem somos, onde estamos, que momento vivemos. Arte também desperta e expande nossa consciência, nos desagradando, agredindo, ferindo nossa insensibilidade, para escancarar diante de nossos olhos quase cegos de ilusão e ingenuidade o horror que temos produzido com o uso ignorante dos recursos naturais e humanos à nossa disposição.

VINGANÇA E SALVAÇÃO

“Deus criou o homem para admirar a natureza e não para comê-la. A Árvore do Conhecimento no Paraíso é uma metáfora, estúpido! OK, tarde demais. Então, nos resta a arte como vingança e como caminho para a salvação.”

Sim, o terceiro jeito de entender a arte pede que acabemos com ela como competência específica e como profissão para virar estilo de vida de todos os humanos.

Todos somos artistas. Todas as lojas, padarias, açougues e supermercados são galerias. Nossas casas são museus. Nossas escolas são laboratórios. Nossas fábricas e escritórios são estúdios e oficinas. Viver é uma experiência artística. E não uma carreira profissional/social com alguns filhos e casamentos anexos. Ou vice-versa.

A música chegará aos nossos ouvidos sem os intermediários artistas, a luz que entra pela janela será emoldurada pelos nossos olhos e encontraremos arrebatamento estético nos utensílios e na arrumação da mesa de um simples café da manhã.

Quando tudo isso acontecer será sinal de que nossa vida estará mais obediente àquele princípio organizador dos sistemas vivos que impede o choque dos planetas e cria a água.

Teremos libertado o amor de suas prisões: as igrejas, os motéis, os livros, as músicas, os longas-metragens e as novelas. E o teremos colocado para trabalhar arduamente também no horário comercial, nas empresas, nas ruas e nos governos, na hora de fazer planos, de fazer contas e de fazer escolhas. E, isso sim, será fazer arte.

Quem sabe um dia a ciência unirá o que o homem separou: amor e arte.

Meu abraço com o desejo de que o pequeno Theo seja portador de muito amor para essa querida família artista e seus contemporâneos.

*Ricardo Guimarães, 62, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é rguimaraes@trip.com.br e seu Twitter é twitter.com/ricardo_thymus

 

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