Isabella Cavalleti
Para ela, amor e sexo têm a força de um Taj Mahal, que foi erguido por causa de mulheres assim
Te apresento a Isabella. Ela é uma curitibana que virou carioca por vontade própria, que estudou mil coisas menos inglês nos seus 26 anos de vida. As palavras favoritas da Isabella são “picles” e “aurora boreal”. Acha que as mulheres têm que ser livres e sentir orgulho do seu sexo. Teve amiga invisível até os 15 anos. Quer morar fora. Sempre foi meio esquisita, diz. Antes de dormir, gosta de conversar com o mistério. Faz um tempo, ela me mandou um e-mail. Dizia que tinha vontade de ser fotografada, de sentir o sol na pele, se mostrar pro mundo. Anexou umas fotos. Obviamente, ela é um absurdo de linda. Eu escrevi de volta.
No dia que conheci a Isabella, passamos a manhã num apartamento onde um namoradinho francês dela morava, um squat todo detonado, um andar inteiro na Vieira Souto, bem na frente do Posto 8. Deve ser um dos metros quadrados mais caros do país. Mas o que encontrei, dentro, foi uma farofa de meia-dúzia de meninos, janelas quebradas, paredes destruídas, nada de geladeira ou fogão que funciona. O tal do namoradinho fez um café instantâneo para nós num daqueles fogõezinhos de camping, uma miniboca de
gás. Colocou um rap francês, apertou a bunda dela com gentileza. Descemos para a praia. Fazia 39 graus na sombra e ela se enfiou no chuveirinho com uma felicidade absurda – abria a boca, engolia a água, deixava escorrer pelo queixo, corpo, cuspia a água em mim. Tão jovem, tão menina, tão linda. Aquela vontade de se mostrar, de curtir a brisa, de ter o calor fervendo na pele branca.
Ela vai me falando da vida: estudou artes plásticas, história da arte, entre outras coisas, na Escola de Artes Visuais no Parque Lage. “Aliás, sabia que aquele casarão foi construído para agradar uma cantora lírica italiana famosa da época? Assim como o Taj Mahal, que foi planejado por um imperador indiano para homenagear sua esposa. Acredito que amor e sexo têm muita força. Levantam palácios!” Isso foi no século 17, Isabella conta. A mulher do imperador Shah Jahan havia morrido, e para demonstrar sua paixão, Jahan ordenou que um imenso mausoléu fosse erguido para abrigar seus restos mortais. A esposa era chamada de Mumtaz Mahal (“a preferida do palácio”) – o nome que batizaria o Taj Mahal é uma corruptela do apelido.
CICATRIZES E LAMBIDAS
Um tempo depois, liguei para ela, falando do tema da Trip deste mês, perguntando se ela não tinha
uma vontade a mais... Ela tinha. Me mandou uma série de mensagens com emoticons e um belo tanto
de pontos de exclamação. Daí um dia apareci na casa dela. Ela mora na Glória, num apartamento que divide com umas amigas. Lá, tem uma janelona na sala com vista para um mato intenso, uma casinha para os passarinhos, um sofá detonado. Trouxe a camisa do meu amante para ela vestir e uma sacola de frutas. Ela me mostrou as calcinhas favoritas dela, fez um café para mim, tirou a roupa e sentou na mesa da cozinha para comer mamão. Por sinal, o café dela é de primeira. Fez esse monte de coisas que você está vendo aqui: dançou ouvindo Jay-Z, rolou na cama e no chão, lambeu uma série de coisas, me mostrou suas cicatrizes, abriu um sorriso atrás do outro.
Tava na cara que se sentiu bonita, estava feliz.
Subimos o morro para Santa Teresa, no caminho ela me conta: “Pra mim, o mais perturbador é o olhar. Barba, cheiro e estilo também. Excitante pra mim é honestidade, consistência e não ter medo de mostrar cicatrizes. E ser capaz de dizer com o coração: quero você. Mas também tem coisas excitantes que não importa o quanto você descreva. Funcionam sempre melhor quando são sentidas, não explicadas”.
“Daí vem o calor, árvore, flor, natureza, trópico, nudez. A naturalidade desse encontro, deste ensaio, e a sucessão de coisas que foram acontecendo. Ser fotografado para a Trip é tipo estar com o namorado. Se sentir bonita, vulnerável, imperfeita. Por mim, eu posaria assim, sempre, de cinco em cinco anos. Até ficar velhinha.”