Sua moda é seu voto
O TNT Lab ocupou o São Paulo Fashion Week e lembrou: a indústria de moda é a segunda mais poluente do mundo
Resistência é trazer para o São Paulo Fashion Week quatro mulheres que estão trabalhando duro para que a moda seja justa, limpa e sustentável. No terceiro dia de evento, o lounge do TNT Lab, projeto do TNT Energy Drink, levantou a discussão sobre consumo consciente e sustentabilidade. Marina de Luca, cofundadora da plataforma Moda Limpa, que reúne numa agenda colaborativa fornecedores sustentáveis, mediou o debate. “As pessoas acham que votam apenas de quatro em quatro anos, mas comprar um produto é dar um voto para uma marca, um fabricante”, disse. Para a estilista, o consumidor precisa entender que seu papel é essencial na transformação do mercado.
Antes de chamar ao palco as convidadas, Marina lembrou em bom tom que a indústria fashion é a segunda mais poluente do mundo, perdendo apenas para a do petróleo. Poderia ter sido constrangedor falar nesses termos dentro da Bienal em festa fashion, mas foi apenas esclarecedor. Mostrando que é possível fazer moda de outra maneira, Claudia Kievel, idealizadora do Jardim Secreto, feira que reúne mais de 180 produtores sustentáveis e com mão de obra brasileira, ponderou que não vamos mudar o capitalismo do dia pra noite, mas apontou que o despertar de consciência já começou. “A gente precisa saber de onde vem a roupa e também tudo que consumimos”, enfatiza.
LEIA TAMBÉM: Liberdade e diversidade são tema do primeiro dia de TNT Lab, na São Paulo Fashion Week
Mariana Bonfanti, cocriadora da Joeur Couture, contou como sua marca, além de ter uma cadeia de produção justa, faz sua parte traduzindo para os consumidores o que existe por trás de uma camiseta que custa R$ 10 em redes de fast fashion. “Eventos como o Fashion Week não costumam ter abertura para esse tema. Mas precisamos bater na tecla de que incentivar o consumo não pensado é muito preocupante.”
E como fazemos para resistir ao grande mercado? Podemos começar indo contra o conceito de tendência, contra a normatização de padrões de beleza e, claro, repensar os hábitos. A terceira participante da conversa, Mariana Iacia, contou como levou seu estilo de vida vegano para dentro do trabalho. Depois de passar por diversas marcas gigantes no segmento da moda em Nova York, percebeu que não poderia trabalhar em uma indústria que vai contra o que acredita: uma cadeia de produção humana e sem sofrimento animal. Nisso, criou a Svetlana, marca que há seis anos desbrava a moda vegana no Rio de Janeiro. A loja acabou virando um centro de encontro de práticas sustentáveis, um ponto de referência para quem entendeu que precisa fazer parte da transformação. Ela comenta: “Ter esse debate dentro de um dos eventos de moda mais importantes do Brasil mostra que estamos avançando e que a discussão pode acontecer de uma maneira amistosa”, crava. E dá para as grandes marcas se adequarem a esse mundo mais justo? “Dá. As marcas precisam se reinventar. Aceitar o desafio”, diz Claudia.
LEIA TAMBÉM: Fazer uma moda genuinamente nacional é desafio, resistência e pulsação na urbe
Quem fechou a noite do lounge foi o DJ KL Jay, do Racionais MC´s, que esteve pela primeira vez na SPFW. KL Jay não usa produtos de origem animal e disse: “Já deixei de comprar tênis sensacionais porque tinham couro”. E ele sabe que praticar hábitos sustentáveis é apenas uma parte de sua missão. “Ser vegano é ser ativista acima de tudo. Por isso eu estou sempre falando deste assunto, postando, alertando”, disse, antes de assumir as pickups e colocar todo mundo pra dançar.
Pode vir, vai ter conscientização e resistência no São Paulo Fashion Week.