Indignação, Quase Revolta.

...tentando imaginar o sofrimento de uma garota de 15 anos jogada numa cela com 26 homens

por Luiz Alberto Mendes em

 

Indignação

 

Eu, que já estive preso tanto tempo, fiquei tentando imaginar o sofrimento de uma garota de 15 anos jogada em uma cela com 26 homens aprisionados. Talvez, se acontecesse em São Paulo ou no Rio, com presos menos brutalizados e mais conscientes, fosse possível uma proteção à garota. Os meios de comunicação seriam mobilizados e a garota socorrida sem grandes traumas. Estupro a presos no sistema penal paulista e carioca é algo do passado. 

Cerca de 70% dos presos das prisões paulistas, é pai. O prisioneiro não é o apregoam os meios de comunicação. Ele também é pai e ama seus filhos. Claro que há exceções. Mas são as mesmas que existem entre homens livres.

Pois lá em Abaetetuba, no Estado do Pará, aconteceu. A jovem L.A.B. de 15 anos foi agredida e estuprada por presos depois de ser colocada em uma cela com 26 homens por determinação da juíza Clarice Maria de Andrade. Para quem nunca esteve preso não dá para imaginar o que sofreu a garota. Mas eu posso imaginar e quase ver a cena. Ter o corpo violado é algo que jamais se esquece.

As torturas que sofri: pau de arara, choque elétrico, palmatória, pauladas, afogamento, queimaduras de cigarro, estão vivas quase 40 anos depois. Ainda doem. Tenho as unhas do pé encravadas porque arrebentaram com elas a pauladas. Preciso ir ao pedólogo quase todo mês. Sofro dores terríveis na barriga todos os dias a partir das 4:00 horas da manhã. O médico afirmou que são deformações intestinais produzidas por pancadas. Preciso operar, abrir o corpo. O que é desaconselhável em minha idade (57 anos até 4 de maio). Fora as lembranças que ainda ferem como fogo em brasa.

E a tal juíza, responsável por toda aquela violência contra a garota (provavelmente quisesse dar uma “lição” à jovem), recebeu ontem sua sentença. Vejam se não é para indignar: foi condenada a aposentadoria compulsória, com direito a manter o rendimento proporcional ao tempo de serviço. Cerca de R$ 19.000,00 mensais, diz o Estadão. Grande condenação, não é mesmo? O advogado dela ainda “estuda” o processo para ver se vão apelar. Decerto ela julga que a sentença foi muito dura. Vai querer voltar a julgar pessoas e, principalmente, receber um rendimento integral e não proporcional.

Não é para indignar?

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Luiz Mendes

21/04/2010.

    

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