Ignorância natural
Procuramos gente que entendeu melhor a noção de que estamos cercados por seres e coisas geniais
Quando ainda era bem pequeno, me lembro de ter ouvido uma frase que não me saiu mais da cabeça: “A ignorância humana é uma força contra a qual há muito pouco que se possa fazer”.
Talvez porque mesmo ainda criança já tivesse noção das dimensões continentais da minha própria, a ideia de que a ignorância fosse algo invencível volta e meia voltava à tela do meu radar, que, àquela altura, procurava por todo lado identificar referências e sinais de vida inteligente.
A velha frase martela aqui no lobo frontal novamente conforme as imagens e notícias sobre a Rio+20 vão se amontoando. Junto com a sensação de frustração que tomou conta da maioria diante da profusão de falatórios e documentos inócuos, o fantasma daquela sentença (em ambos os sentidos da palavra?) chacoalha suas correntes aqui dentro.
Mas, como sempre tentamos fazer aqui (e sem nenhuma tentativa de trocadilho, simplesmente porque é da nossa natureza), vamos atrás de abrir novas estradas em vez de parar prostrados diante do buraco. Esta, é fato, talvez não seja exatamente nova. Qualquer forma de saber ancestral, na verdade, se originou de algum tipo de observação daquilo que está a nossa volta e de como isso interage com o que carregamos dentro de nós.
Mas, inspirados pela instigante biomimética, ciência que tenta trazer para os problemas que enfrentamos hoje as soluções que a natureza já encontrou há milhões de anos, saímos nesta Trip procurando gente que de alguma maneira conseguiu entender um pouco melhor a noção de que estamos cercados por seres e coisas geniais. Figuras que se deram conta de que, se conseguirmos deixar ainda que por um breve instante do turbilhão competitivo e burro no qual nos metemos para prestar atenção às lições que vão pelas águas, pelos ventos, nas costas de insetos, nos comportamentos dos animais e nas partículas de cada célula, talvez consigamos uma hora dessas provar que aquela famigerada frase, na verdade, por mais que pudesse ser tristemente lúcida, deixava um pequeno espaço, uma saída estreita mas possível, contida nas palavras “muito pouco”. É por ali, por essa brecha fininha, que a inteligência humana em rede pode ser capaz de alargar muito, o caminho por onde a compreensão mais clara e ampla da linguagem da natureza pode, quem sabe, vencer nossa aparentemente invulnerável e cada vez mais gulosa ignorância.
Paulo Lima, editor