Humor ontem, hoje e amanhã
Não leve a vida a sério demais. No fim ela vai rir de você
"Não leve a vida a sério demais. No fim ela vai rir de você...” O sábio conselho estava pregado em algum vidro de carro por aí. Não sei precisar onde vi nem quando. Acho que estava em inglês. Mas nunca me esqueci da quantidade acachapante de verdade contida nessa “brincadeira”. Esse é, de alguma forma, o espírito desta edição da Trip.
Espirituoso, aliás, é um dos elogios que costumam ser feitos a quem carrega a virtude do bom humor. Por todos os lados, em frases de adesivos de carros, em ditados populares, nos pensadores gregos ou em respeitáveis filosofias orientais ancestrais, a associação de humor, leveza e riso com a noção de elevação espiritual e de transcendência se repete. Por aqui, o humor sempre teve peso dez e a mais absoluta leveza.
A capacidade de brincar e de rir da nossa própria condição humana, imperfeita por definição, é parte da formulação da Trip. Mas, em que pese o árduo trabalho da nossa equipe para retratar um espectro amplo da história e dos protagonistas do humor brasileiro no sentido mais estrito da expressão, como você verá a seguir, nos interessa também que esta revista consiga levar a pensar na densa e crucial carga crítica e de crônica social que cabe ao humor exercer. O que mais nos interessou desde que começamos a abordar o tema foi o humor como uma ferramenta de conexão com outros planos de consciência, com o poder de nos salvar, nos arrancando da mediocridade e elevando nossos espíritos.
Nunca é demais lembrar que na etimologia da palavra “diversão”, por exemplo, encontra-se a ideia de algo capaz de transportar nossas mentes para um lugar “diverso”, fora do turbilhão tenso e sem nexo no qual costumamos nos enfiar até o pescoço, na ilusão de que estamos produzindo e agindo de forma eficiente dentro do “contexto social”. Felizmente, contamos com os deuses do humor, uns mais outros menos hábeis, para nos remover desse rodamoinho e nos levar para esta esfera um pouco mais nobre da existência.
Bombas explodem e matam nas ruas americanas, um estudante paulistano é assassinado com um tiro na cabeça em frente ao prédio em que morava depois de entregar o celular ao ladrão, um misto de caudilho e Pikachu ameaça detonar uma guerra nuclear intercontinental na Coreia do Norte...
Com tudo isso rolando vamos falar de humor? A resposta é sim, desde que o humor seja lembrado como uma das mais eficazes maneiras de externar e produzir indignação. Ou ainda como a melhor palavra para traduzir o bem-estar psíquico e emocional de uma pessoa. Exatamente o que parece faltar aos protagonistas dos exemplos citados acima.
Paulo Lima, Editor