Homem que é Homem, é fashion?

Ou Tem Pra Homem?

por Xico Sá em

Cuidado, mulheres, com os pretendentes homens que acertam 100% no jeito "muderno" de se vestir. Tudo em cima, harmonia e grife da hora, cabelo ao ponto, óculos na tendência... Pode até não ser gay, claro, pero és mejor ficar de olho no cabrón. Melhor acionar a velha moral escoteira do "sempre alerta".

Aliás, dizem que a comédia dos vacilos masculinos, que hoje deu no tipinho conhecido como "metrossexual", começou quando um exemplar da raça - um francês, presume-se - resolveu pôr um cachecol para apanhar lenha na floresta. "Noooosssa!", espantaria-se o velho Costinha. Estava iniciada aí, nesse maldito pano enrolado no pescoço, a crônica das nossas desgraças.

Homem que é homem pode até acertar uma peça ou outra, ter um pé em um dandismo natural, ser influenciado pela namorada (elas nos querem cada vez mais sensíveis!), mas cair no conto de fadas fashion, na boa, não é de bom-tom.

O SPFW está aí para provar. Ricardo Almeida foi na linha "eu não sou cachorro, não", com dobermann e tudo na área, rock industrial e outros babados démodé.

Os jornalistas do ramo chamaram sua linha de "viril hard core". Tem pra homem, entre suas roupas? Tem sim, mas desde que o sujeito pegue uma peça ou outra isolada. O conjunto da obra denuncia a distância.

Mas quem caiu mesmo na fábula do tal homem sensível, o "metrossexual" abusado no lipglass, foi o Mário Queiroz. Tudo bem, homem que é homem chora, se acaba por amor quando o amor acaba, mas não precisa andar vestido daquele jeito... Um jeito assim David Beckham de ser. Ou chora ou veste aquele tipo de roupa. As duas coisas juntas, na buena, é carregar demais no blush existencial.

Nesse desfile, aliás, está a chave para entender o "aviadamento" estético que tentam fazer do homem de hoje.  Em vez de tornar-se mais radical no amor, à moda do jovem Werther, que se mata por uma mulher, a criatura cai na onda da indústria de afetações e cosméticos, lambuzando-se de MAC, como os modelos do SPFW. Lágrimas de crocodilos cairiam melhor num desfile da Lacoste!

Mulheres "mudernas", não tentem fazer dos seus "pertences" homens fashion. Sejam mais generosas, perdoem os sapatos errados, os cintos gritantes, e os jeans mais chinfrins... Afinal de contas, como diz o fotógrafo João Wainer, em texto do livro Na Sala com Danuza.2, que conta com a modestíssima colaboração deste bípede que vos fala, "ou é homem ou é sensível". Aqui, a dupla militância não passa de uma missão humana impossível.

*Xico Sá é autor de Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (editora Record, 2003)

Créditos

Imagem principal: Eliana Rodriguez/Divulgação GNT

Arquivado em: Trip / Moda / Comportamento