Heróis não duram

por Luiz Alberto Mendes em

 

Pés de Barro

 

Não sou modelo de nada. Todo modelo é falso. Heróis não duram. Às vezes penso que o fato haver quebrado barreiras seja um mal para o coletivo. Pressupõe que se eu encontrei a saída os outros, necessariamente, são capazes de encontrar também. E se não encontram é porque não procuraram devidamente, são incompetentes ou não estavam mesmo a fim de nada.

Absolutamente, a vida não é assim lógica e nem justa.

Fui bem pior que a maioria das pessoas que estão aprisionadas no Estado de São Paulo. Jamais fui submisso. E a todos que me obrigaram a abaixar a cabeça ou calar, reservei meus piores pensamentos. Rebelei-me desde muito pequeno contra a tirania de meu pai. Depois contra tudo o que me oprimia. Estava em guerra.

Hoje, se não sou revoltado (porque e para que, não é mesmo?), ainda cultivo certa anarquia e uma noção de liberdade além do ir e vir. Como diria Clarisse Lispector: “Minha liberdade é escrever.” Ou como explicitaria melhor Marguerite Duras: “Escrever é calar-se. É gritar sem ruído.” Não sou isso e nem aquilo, não posso ser definido. Não controlo e nem manipulo. Tento seguir em frente como se viver fosse a própria manifestação da minha liberdade.

Penso naqueles que saem da prisão todos os dias sem ninguém por eles. 173 mil presos no Estado de São Paulo, sendo que 40% não têm para onde voltar. Perderam a família enquanto presos ou nunca tiveram. Sem profissão, alienados, inadequados para o convívio social e desarmados para enfrentar o preconceito social.

A vontade não se torna imperiosa do nada. Ela tem suas raízes na energia, na pujança, na capacidade de enfrentamento e nas convicções de cada um. E para aqueles que não encontraram forças, convicções, apoios e amigos como encontrei, restará o que?

Sei que sou aprovado por boa parte das pessoas. Minha história é convincente porque consistente. Mas sou como qualquer um dos 173 mil homens e mulheres que estão atrás das grades em São Paulo no momento. Sou como qualquer pessoa, preso ou livre. Preso ao instante em que existo e que vai morrer amanhã ou depois.

Erro, acerto e sonho com um mundo melhor. Ando pelas ruas e uso cartão de crédito (Cazuza trocava cheques). O destino devia ser coletivo. A força de vontade, a capacidade de concentração, o amor aos livros, o sonho de honra e elegância, o tesão pela generosidade, o prazer na elegância de atitudes, o desejo de criar bem meus filhos e outras escolhas que me seduziram, devia seduzir a todos.

Luto por libertar-me. Agora de mim mesmo. De meus preconceitos, de minhas fraquezas, de minha violência, de meu individualismo e de meus limites todos. Quero minha humanidade inteira. Amar e viver grande.  

Descobri que é daí que me nutro de forças para sustentar minhas convicções. É ai que fundamento minha vontade e a torno imperiosa. Esse é meu exercício de seguir o meu caminho...

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Luiz Mendes

22/05/2012.

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