Guerra de manobras

O skate invadiu Cabul, no Afeganistão, para integrar a juventude local com o resto do planeta

por Caio Ferretti em


Um som diferente ecoa na capital afegã. Não são bombas ou tiros de metralhadora iniciando mais um conflito, mas o barulho que agora soa por lá também chama a atenção dos jovens. Em meio às ruínas deixadas pela invasão norte-americana e aos resquícios culturais dos tempos de domínio da milícia extremista Taleban, o som que começa a ganhar espaço nas esburacadas ruas do Afeganistão vem das rodinhas de skate cortando o asfalto que restou. Uma novidade tão grande no país que eles sequer conhecem a palavra skate. Lá, o nome é “pequeno carro com rodas”.

O responsável por introduzir a nova cultura na região foi o australiano Oliver Percovich, que chegou ao Afeganistão no início de 2007 para encontrar a namorada e levou na bagagem alguns skates. Sem emprego, passava os dias em cima da prancha. Foi aí que percebeu a curiosidade dos jovens locais com o esporte e sentiu que poderia mudar alguns costumes. Em pouco tempo o interesse cresceu, e Oliver criou a Skateistan, a primeira escola de skate do país. “Eu nunca havia visto mulheres praticando qualquer tipo de esporte em espaços públicos antes”, diz. “O fato de eles aceitarem meninas andando de skate em público é sensacional. Criamos um ambiente de diversão no qual eles aprendem que não existe diferença entre etnias, homens e mulheres, pobres e ricos...”


Os planos agora são de construir um skatepark. Pelas previsões de Oliver, isso deve acontecer já em setembro deste ano. No entanto, a Skateistan depende exclusivamente de doações de materiais esportivos para continuar a crescer – e Oliver sabe o quanto o projeto é importante em Cabul. “O skate é um esporte global. Com ele nós temos a possibilidade de conectar a juventude afegã com o resto do mundo”, explica. E, em poucas palavras, arremata: “Uma vez um soldado me disse: ‘Enquanto eles estiverem andando de skate, não vão amarrar um cinto de bombas em suas cinturas para cometer um atentado suicida.’”.

 

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