Fenômeno do cerrado

O grupo Móveis Coloniais de Acaju mostra que está além de ser apenas o novo Los Hermanos

por Cirilo Dias em

Enquanto as 5 mil pessoas se divertiam no lotado Centro Comunitário da UnB (Universidade de Brasília), o Móveis Coloniais de Acaju trabalhava duro para que a 10ª. Edição do Festival Móveis Convida, que aconteceu no dia 3 de abril, continuasse animada e organizada até a hora em que subiriam ao palco.

“Cara, isso aqui está uma loucura. Está sendo a edição em que mais pessoas da banda estão envolvidas na produção”, diz Fabrício Ofuji, integrante do Móveis. O grupo é formado por André Gonzáles (voz), BC (guitarra), Beto Mejía (flauta transversal), Eduardo Borém (gaita cromática, escaleta e teclados), Esdras Nogueira (sax barítono), Fabio Pedroza (baixo), Paulo Rogério (sax tenor), Gabriel Coaracy (bateria) e Xande Bursztyn (trombone). Qual dos oito instrumentos musicais do grupo Ofuji toca? Nenhum. Ele organiza, coordena, planeja e administra a empresa/banda Móveis Coloniais. Depois das poucas palavras, o samurai candango corre para o backstage. Enquanto isso, o Black Drawing Shalks (GO), um dos convidados da noite, se acabava no palco sob os olhares atentos do vocalista do Móveis, André Gonzáles, que acompanhava tudo da mesa de som.

Tradicionalmente, o Móveis Convida é formado, em sua maioria, por estudantes do ensino médio e universitário, que neste dia enfrentaram a chuva torrencial da capital federal para trocarem 1 quilo de alimento por diversão garantida. “É o terceiro ano que eu venho”, diz a estudante do curso de Letras da UnB, Gabriela, 19, que até demonstrava um certo interesse pelos convidados da banda, mas estava ali “para ver o Móveis mesmo”.

Pelos palcos do Móveis Convida já passaram Ludov (SP), Pato Fu (MG), Moptop (RJ), Canastra (RJ), Teatro Mágico (MG) e Los Hermanos (RJ). Mas seriam os Acajus os novos Los Hermanos? “A banda não trabalha para ser igual ou soar como alguém. Mas de fato tivemos bastante contato com o Los Hermanos e alguns integrantes da banda gostam, mas nada de comparação. A gente até transita entre o público deles e o do Teatro Mágico, e procuramos ter uma relação de amizade com o público. Algumas pessoas falam que é como se fossem seguidores de uma religião, mas nós procuramos fazer amigos.”, explica Ofuji.

Já Fernando Rosa, produtor e dono do selo Senhor F discos, define o fenômeno Móveis Coloniais como “a banda que melhor trabalha a relação banda x público. Eles surgiram há 10 anos na UnB e souberam gerenciar e construir um público fiel. Romperam com a velha lógica de que só é possível fazer sucesso tocando no rádio”.


Móveis Coloniais de Acaju @ Móveis Convida na Unb

E como constatar essa nova relação estabelecida pelo grupo brasiliense? Simples. Testemunhar as cinco mil pessoas acompanharem em voz alta a contagem regressiva do telão e cantarem alucinadamente as músicas do novo disco, C_mpl_te, c om previsão de lançamento no início de maio. Culpa da estratégia da banda em liberar as músicas para download no site oficial. No dia seguinte, a cena se repete no show em Goiânia (GO). A banda carregando equipamento de som e cuidando de todo o trabalho de produção, e o Centro Cultural Martim Cererê entupido de gente.

E como definir o Móveis Coloniais de Acaju hoje? “É a consolidação de um trabalho planejado, um caminho seguro que a gente tem seguido. Se a banda vier a estourar nas rádios, que seja algo que não prejudique”, finaliza Ofuji.

Crédito: Cirilo Dias
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