Feira no papel

Pela segunda vez, a Feira Plana toma o MIS, em São Paulo, repleta de publicações independentes. Conversamos com Bia Bittencourt, criadora e curadora do evento

por Felipe Maia em

A Feira Plana, como diz seu nome, privilegia as duas dimensões. O evento reúne publicações em papel de todo o tipo: da maioria esmagadora de zines e trabalhos independentes a pequenos cartões postais, panfletos, quadrinhos e até livros.

“Eu me apaixono por um Decamerão da Cosac Naif quanto por um Ice Fuckers, feito pela independente editora A Bolha”, diz Bia Bittencourt. Ela é curadora e criadora da feira que, neste ano, chega a segunda edição.

Além de centenas de expositores com trabalhos a venda, a Feira Plana deste ano terá shows e oficinas. Na conversa abaixo, Bia falou com a Trip sobre zines, circuito independente, curadoria e, claro, papel.

Como surgiu a ideia de fazer a feira? Bia Bittencourt: Foi em uma viagem que fiz na NY, estava acontecendo a NY Art Book Fair, que tem uma área enorme pra zines e publicações independentes, voltei louca pra fazer algo parecido. Fiquei escrevendo projetos, conversando com amigos, mostrando para instituições até que uma hora rolou! A feira do ano passado já foi incrível, logo a primeira!

Quais as principais diferenças entre a próxima edição e a edição anterior da feira? Esse ano vai ter bem mais gente, tanto visitantes, como em número de expositores. Ano passado foram 90 e agora serão 150. Tem muito mais gente produzindo (ou que saiu da toca). Muito mais eventos acontecendo também, como workshops. Vem gente de outros países! Ah, sim, também teremos mesas de madeira. Ano passado, como não tinha dinheiro pra nada, as mesas eram de papelão. Ficava tudo desmantelando.

Historicamente, o zine já teve várias funções: manifestação política, visibilidade de minorias, exposição artística, etc. Quais delas você acha que se perderam com a internet? E quais as funções se mantem? Acho que a internet foi um atropelo em todo mundo. Me parece que zine, esse fanzine mesmo, que o pessoal usava como revistas independentes sobre um tema específico, ele continua existindo e tem seu lugar no mundo. Mas essas coisas que o pessoal tem feito hoje não são mais isso aí, não! São uma coisa nova, que não tem a ver com revista, com internet ou com ser fã de alguma coisa, mas com a possibilidade de experimentar, mostrar pro mundo, fazer sozinho, errar, dividir, cortar, fazer do começo ao fim um objeto, um livro, sem ter que passar pelo mundo real: burocracias, empresas, gráficas, tiragens enormes, livrarias, impostos, taxa, etc. Isso é abstrato demais.

Você acredita que o circuito de produção de zines chega além dos centros? Por exemplo, há muita gente da FAUUSP que produz zines, mas essa cultura não necessariamente é atribuída a coletivos da periferia. Todo mundo que se comunica deve ter algum zine, algum projeto, alguma coisa guardada numa gaveta em casa. Não quero ser uma caçadora do zine perdido. Eu vejo o que está ao meu redor, eu mal consigo conhecer meu bairro, minha rua quiçá. Eu olho para o objeto como um livro. Bom, bonito, seja lá de quem ele venha. Se veio do dono de uma grande corporação ou de um garoto de escola pública.

Na lista de expositores há espaço para qualquer um que queira participar? Como funciona a escolha? Na verdade, não. Tem muita gente produzindo todo tipo de coisa de todas as formas com linguagens infinitas. A Feira Plana é uma feira de inscrição e participação gratuitas, mas eu faço curadoria. Eu olho tudo o que me mandam, com muita atenção, mas eu escolho o que eu acho legal. É meio isso. Seja estética, seja conceitualmente. Acho importante que haja uma variedade grande de produção. A escolha funciona a partir da inscrição que eu abro em novembro, através do site. Esse ano chegaram quase 500.

O zine está quase sempre ligado a uma tradição independente. A presença de editoras como a Cosac Naif no evento vai contra isso? A minha paixão, e eu acho que a de todo mundo que estará lá, é por livros, livros bonitos. E isso a Cosac sabe fazer, tanto que muitos dos participantes da feira já participaram de alguma concepção gráfica da editora. Eu me apaixono por um Decameron da Cosac quanto por um Ice Fuckers, feito pela editora independente A Bolha. No final, são todos livros bonitos. Se você anula tudo isso que tem em volta, é pra isso que estou olhando. A Cosac é uma editora grande, com distribuição grande, em livrarias grandes e que se interessou de uma forma muito gentil e simpática pela Feira e apresentou uma proposta super específica de levar livros que se encaixariam na linguagem das outras banquinhas. Eu vejo isso mais como uma forma inversa, não de o zine estar caminhando pro mundo das grandes livrarias e distribuidoras, mas, sim, as grandes editoras quererem estar presentes, acompanhar de perto e participar um pouco desse movimento que é tão livre e espirituoso. Participar da Feira Plana deve ser tipo férias pra eles!

Vai lá: Feira Plana
Quando: 8 e 9 de março; das 12h às 20h
Onde: MIS (Museu da Imagem e do Som) - Av. Europa, 158, Jardim Europa - São Paulo
Quanto: Gratuito
Informações: Feira Plana

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