Faça coisas para que você não precise comprá-las, diz um editorial da revista Make, a bíblia dos inovadores de garagem nos Estados Unidos. As ideias espalhadas pela publicação geek e simpática são apontadas por economistas e empreendedores como uma alternativa (entre poucas) para alterar a dinâmica insustentável
do ciclo de produção e consumo em que
estamos metidos.
“Tem muita gente se perguntando: ‘Eu preciso comprar tudo?'” Ou ainda: “Esse meu computador fica velho e ele simplesmente passa a ser inútil?'”, conta Gabriela Augustini, empreendedora digital e criadora do Olabi, makerspace na zona sul do Rio de Janeiro. O Olabi nasceu no ano passado, em um contexto histórico no qual criatividade e tecnologia não estão mais restritas a centros de pesquisa ou grandes empresas. Nos últimos cinco anos, 50 novos espaços compartilhados de experimentação abriram as portas no país, entre makerspaces, hackerspaces e laboratórios de fabricação digitital, ou fablabs.
A cultura maker está crescendo no Brasil. Meia-irmã da gambiarra, tem como premissa a inventividade: “As coisas à nossa volta podem ser construídas e recriadas da maneira que a gente quiser”, conta Gabriela. Em julho de 2015, o Olabi se juntou à ONG Observatório de Favelas, à Fundação Ford e ao MIT e levou ao Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, o primeiro Gambiarra Favela Tech, um workshop de duas semanas com dez jovens de diferentes comunidades para explorar circuitos eletrônicos e aplicações low tech. O fato de não ser restrito a apenas uma camada da população é uma das maiores forças do movimento.
A indústria de bens de consumo começa a perceber que o modo maker de fazer tem potencial para transformar os negócios. É hora de aprender com eles. A Fiat está criando um fablab dentro de sua universidade corporativa em Minas Gerais. “A gente pretende trabalhar com uma série de culturas que estão emergindo, tentando acompanhar as transformações enquanto elas estão acontecendo”, explica Mateus Silveira, especialista em future insights da montadora.
O empreendedor norte-americano e autor do Manifesto do Movimento Maker, Mark Hatch, aposta que a fabricação pessoal pode ganhar escala e levar a uma nova revolução industrial. Pode parecer difícil acreditar que os jovens do Complexo da Maré são capazes de criar inovações que venham a alterar o cenário, por exemplo, do setor automobilístico. Mas deve ter sido algo assim que pensou a Budweiser a respeito das microcervejarias há uma década – antes de começar a perder mercado para elas.
