Experiência

por Luiz Alberto Mendes em

O Velhinho

 

Não, eu não quero mais ser jovem. De modo algum, nem fisicamente. Estou bem como estou. O espírito de manada que faz com que o jovem adote ideias, princípios e posições sem muita discussão, não me serve mais. A ansiedade e velocidade com que eu reagia aos reclamos da moda, dos costumes e maneirismos sociais, não me permitiam ver direito, observar melhor ou experimentar antes. Batia de frente com qualquer dos valores, sociais ou morais, que se antepusesse à pressa e voracidade de viver que me possuía dos pés à cabeça. Tudo era agora ou nunca mais. Mais ainda: já, imediatamente.

Meu corpo não pedia; antes exigia ação, hiperatividade e correria desembestada atrás de algo que eu nunca soube o que fosse. Sabia apenas que devia seguir em frente derrubando todas as barreiras e obstáculos que surgissem. Eu me achava esperto; possuía toda sabedoria que necessitava para imperar em meu meio, embora ainda arrancasse os cabelos, desesperado, a cada decisão a tomar. Vivia a emitir sandices sem nem ao menos acreditar nelas. Sexualmente me julgava um “animal”, a partir de uma doida que me chamava de “tourinho” em pleno ato sexual. A quantia das vezes que tinha orgasmos, o tempo que conseguia ficar excitado e a quantia de garotas que possuísse eram a garantia de que eu era um autêntico “garanhão”. Essa era a expressão máxima da minha juventude para o homem ativo sexualmente.

Sim, estou velho, tenho 61 anos. E não posso dizer que foi de uma vida bem vivida. Não gostei da minha atuação. Bem podia ter feito uma vida melhor, mais útil, mais interessante e importante tanto para mim como para os outros. Mas o que sou é tudo o que fui capaz de desenvolver. Ficar mais de 30 anos preso, embora eu até tenha aproveitado um bocado, aqui fora teria sido bem melhor, quanto a isso não restam dúvidas.

Prefiro meu espírito maduro de agora. Possuo muito mais sabedoria e serenidade para lidar com os fatos da vida. Tenho mais capacidade e elegância para resolver qualquer problema que surja. Escrever, para mim, não é uma profissão e sim uma condição. Sou muito mais sedutor porque não mais viso o sexo antes de tudo. Sexo para mim hoje é uma consequência possível, jamais determinante de qualquer relação. Gosto de conquistar, de fazer com que as pessoas gostem de mim e procurem minha companhia. Claro que agora tenho mais necessidade de cuidados e meu trato comigo exige mais carinho e dedicação. Tenho que me exercitar mais, ter mais paciência comigo e com minha memória e ir devagar. Já não enxergo bem, escuto pouco e substitui boa parte de meus dentes. Mas posso realizar muitos prazeres, alegrias e rir muito das besteiras pelas quais me matei para ter, aprender ou ser. Não sou mais um atleta na cama, mas ainda sinto imensa atração pela vida sexual. Já hoje misturo sexo com ternura, doçura, carinhos sutis e as palavras mais generosoas. Hoje já não possuo; antes eu me dou inteiro ao momento e à parceira.

Acho que o problema é que construímos uma sociedade em que o sucesso, a felicidade e o prazer estão reduzidos a dinheiro, aparência, poder e sexo. A idade vai nos fazendo dar menos importância a um monte de coisas sem significado e colocando outras em seus devidos lugares. Será que ainda terei tempo para me tornar um velhinho sábio?

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Luiz Mendes

16/12/2013.

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