Excrecência de Confiança
Sempre me aborreceu essa excrescência na política brasileira chamada de cargo de confiança
Cargos de Confiança
Se tem coisa que sempre me aborreceu, é essa excrescência na política brasileira chamada de cargo de confiança. Não há muita diferença de uma quadrilha de bandidos ou traficantes. A finalidade é idêntica: domínio, controle. Não sei por que essa conversa me faz lembrar Bernard Shaw dizendo que se alguém roubar um pão vai preso, mas se roubar o reino torna-se rei.
Lembro-me que Zé Dirceu tinha cerca de 20 mil cargos de confiança em suas mãos, quando assumiu a Casa Civil. Não é absurdo que, em uma pretendida democracia, um único homem tenha tamanho poder? E isso é só na esfera federal. Cada Estado procede de forma idêntica ou pior ainda. E é na capilaridade que esse acinte à inteligência nacional mais afeta. Até para uma porcaria de uma penitenciariazinha, os cargos de diretoria são cargos de confiança. Quando empossa um novo governador, ocorre um frisson. As prisões (diretores, funcionários, guardas e presos) ficam de orelha em pé, atenta.
Pode dar merda. Depende de quem o novo governador colocará como Secretário dos Assuntos Penitenciários. Este terá todos os cargos de diretoria de cerca de uma centena de prisões à sua disposição. Quase mil postos de trabalho com remuneração bastante razoável e mordomias de montão. Nomeará quem ele e a cúpula que toma o poder da pasta com ele, quiser. O receio de todos é seja nomeado um diretor geral linha dura, ou pior: um diretor inexperiente, dominado pelos guardas. Naquela prisão haverá descontinuidade de qualquer trabalho que se tenha feito até então. Teremos anos de conflitos, retrocessos, rebeliões e risco de vida para todos. Até para o infeliz que assume sem ter conhecimento ou competência.
E, pelo que tenho visto aqui fora, isso se dá em cada fundação, autarquia, instituição, ou órgão do governo brasileiro. Como podemos conviver com isso? Cadê o funcionário de carreira, aquele que começa em baixo e vai crescendo na administração pública por méritos e estudos? Não existe mais? Se fosse prisão, já começavam murmúrios de insatisfação, as conversas em grupos e de repente já é rebelião. Risco de vida ou morte: “foda-se, estamos presos mesmo, tanto faz”. Aqui fora percebo, estamos convivendo com este absurdo com tranqüilidade. Alguns espertos vão se apropriando do que é de todos e todos se calam. E imagino que haja até meios legais de impedir tamanha estupidez.
Sabe qual a dificuldade? As pessoas delegam poderes para se livrarem das responsabilidades. Necessário se faz que haja participação, meios de fiscalizar e observar. E é claro, pessoas que se empenhem em cobrar. Seria necessário criar conselhos de cidadania fiscalizadores, como aconteceu na história dos países que hoje estão entre os chamados de “primeiro mundo”. Provavelmente esta seja uma fase histórica que teremos que passar para amadurecer a idéia de cidadania em cada um de nós brasileiros.
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Luiz Mendes
27/04/2010.