Eu dormi com Joey Ramone

“Eu prefiro The Clash”, diz Mickey Leigh durante uma conversa num bar paulistano. Vários fariam essa afirmação sem acrescentar sequer um acorde polêmico. Leigh, ao contrário, o faz com certeza despretensiosa. Ele é irmão do líder da maior banda punk dos Estados Unidos. Por isso, ele também é dono de outra declaração provocativa: “Eu dormi com Joey Ramone”.

A frase intitula a biografia do roqueiro escrita pelo caçula da família Hyman. Unha e carne durante a conturbada infância nos subúrbios nova-iorquinos, Mitchell e Jeffrey (o verdadeiro nome do vocalista) viviam em pé de guerra e paz quando adultos. A relação dúbia é fundamental no livro: Leigh é fraterno, mas não piegas; mordaz, mas não corrosivo.

“Queríamos fazer o que os Beatles fizeram por nós”, diz ele, o primeiro da casa a sonhar com bandas. No porão, juntou-se a amigos e começou a tocar. Jeffrey viu a cena e decidiu, no alto dos 15 anos, produzir o grupo. Não deu certo, mas a semente do rock já estava plantada. Anos depois seria a vez dele, agora Joey, ter sua banda.

“Sou orgulhoso dos Ramones”, afirma Leigh. Sem aparentar despeito, mesmo pessoalmente, ele conta no livro histórias da vida do irmão com riqueza de detalhes e diálogos. Ao decorrer das páginas é possível enxergar um outro Joey por trás dos eternos óculos escuros, cabelo comprido e jeito desengonçado.

O último encontro dos dois foi no natal de 2000. Na ocasião, fizeram as pazes mais uma vez. Se ele, ao contrário de alguns artistas brasileiros, aceitaria ser biografado? “Ele entenderia, sim”, diz Leigh. A certeza pretensiosa é de alguém que sabe o irmão que teve.

Livro: Eu dormi com Joey Ramone - Memórias de uma família punk rock
Autor: Mickey Leigh
360 páginas
Preço: de R$ 35 a R$ 45 
Editora: Dublinense
www.dublinense.com.br