Estamos à mercê de nós mesmos

por Luiz Alberto Mendes em

À  Mercê

 

Estamos à mercê de nós mesmos. Óbvio, não é mesmo? Seria de estranhar se esse não fosse o caso. Um prisioneiro sem muralhas ou grades, é um escravo. Um escravo que não careça ser torturado para sê-lo, é um títere. E o que é um títere? Marionete, boneco de pano movido por cordéis. E esses cordéis, por acaso seriam o dinheiro, a propaganda, ou mais precisamente o marketing? Depois de Pavlov, marketing e auto-ajuda “formatam” a mentalidade dos seres humanos.

Penso se o que vivemos na sociedade moderna não faz de nós prisioneiros sem grades. A rotina traz segurança, mas infere recompensa posterior. Ninguém vai se permitir às rotinas cotidianas caso não haja compensações. Até concordo que escolhemos caminhos. Mas as disciplinas e exigências inerente ao caminho escolhido, acabam por serem excessivas. O custo do bem adquirido ou do erro cometido é demasiadamente caro. Tudo vira rotina massacrante que nos submetemos a pulso e mesmo sem acreditar mais em resultados.

O que é um títere (gostei da expressão) na prática social? Alguém cuja vontade não é levada em consideração. Pergunto se a nossa vontade tem sido observada e devidamente considerada. Somos nós que determinamos o que fazemos ou estamos à mercê de decisões alheias? Elegemos nossos representantes, mas é possível que eles realmente nos representem e cumpram com o que prometeram? Tudo depende das conjunturas e da correlação de forças.

Os funcionários de 1º, 2° escalões e em cargos de confiança (essa excrescência da gestão pública brasileira) estão todos apreensivos em São Paulo. O grupo político que vai assumir o Estado, embora seja do mesmo partido (PSDB), é rival do grupo dominante anterior. Então há muitas pressões, verdadeiras guerras de foice no escuro por tais cargos. Valem 4 ou 8 anos de mordomias plenas. 

E o tempo, os horários a nos prenderem em suas malhas de aço? Dormimos mais tarde que precisamos e somos obrigados a acordar mais cedo que queremos. Ingerimos alimentos rapidamente para “aproveitar o tempo”. Vivemos mortos de sono. Embora, paradoxalmente, sofrendo de insônia. O tempo é relativo a muita coisa, mas principalmente ao modo de vida e cultura de cada pessoa, de cada sociedade e também de cada espécie.

Os zoólogos afirmam que diferentes espécies de animais percebem a passagem do tempo de maneiras diferentes. Até onde sei, os programas televisivos passam cerca de sete quadros por minuto. Parece que essa velocidade é perfeita para o entendimento humano. Mas veja: para um desses pássaros caçadores de insetos, como o sabiá, deve parecer totalmente desarticulado. Seu sistema nervoso funciona de modo a acompanhar vôos muito mais rápidos dos insetos que caça para viver.

Acho que o problema deve estar no fato de que ordenamos as coisas que percebemos no mundo do modo como sabemos. E com certeza, deve haver muitos outros muitos modos alternativos. Aprendi vivenciando que deixamos de ter chances de encontrar unicamente quando deixamos de procurar. Por enquanto vamos seguindo, acendendo lampiões para morrermos no escuro.

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Luiz Mendes

13/12/2010.

 

 

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