Um amigo ontem afirmou que régua do que falar ou fazer deveria se basear em três perguntas: É bom? É verdadeiro? E por fim, é útil? Pensei no texto abaixo, se ele passaria por esses critérios. Seria bom? Creio que não. É verdade? Sim é, eu constatei. É útil? Não sei, talvez como alerta, para que as pessoas entendam que a liberdade sempre foi o prato mais caro que se pode levar à mesa. De qualquer modo, vai ai.
Sair das prisões brasileiras significa ser egresso delas para o resto da vida. Jamais haverá perdão para seus erros; eles serão eternos, como o Universo. Por mais você proceda corretamente em seguida, seus acertos serão efêmeros porque sempre relacionados a seus erros. E eles serão como pedras aflitas a se queimarem ao sol. Caminha-se na contramão da história porque é sabido que acertam mais aqueles que erraram mais e não ao contrário. Como um conjunto de engrenagens que fazem o tempo parar, não haverá conforto, a não ser o sólido silêncio de olhos esgotados.
Ser egresso das prisões significa fazer parte do grupo de humilhados e ofendidos que nos fala Dostoievski. Aqueles marcados para serem rejeitados e excluídos para sempre. Podemos sorrir para alguns heróis que nos acolhem no coração; eles mais do que merecem nossa consideração. São únicos. Mas não se pode deixar de chorar pela maioria que ainda te quer preso e sofrendo, por mais tenha você sido preso e sofrido.
Haver estado nas prisões do país, significa temer que o preconceito passe de você para seus filhos. É preciso que eles não contem a ninguém na escola onde estudam, nem aos professores, ou na convivência social, sobre o seu passado. Os colegas deles, ao contarem aos pais, podem ser proibidos de andar ou falar com seus filhos. É preciso ensiná-los a mentir e esconder, logo cedo, para se preservarem do preconceito generalizado.
Ser egresso dos presídios significa ter suas pernas e braços partidos e ainda assim ser julgado eternamente por estar aleijado e ferido. Significa não ter pais e ser condenado por ser órfão. Escutar e suportar em silêncio o discurso dos "liberais" que se dizem isentos de preconceito, mas que não te levam em suas casas e não te apresentam a seus familiares. Significa viver molestado por dentro, ser rejeitado por fora e só ter o valor do vagalume noturno quando inventa, cria ou inova em alguma coisa que nunca ninguém fez.
Sair das prisões no Brasil significa viver a dor e a profunda angústia de ver suas esperanças já nascerem mortas.
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