Espaços Cerebrais Redistribuidos

por Luiz Alberto Mendes em

 

Adaptações Cerebrais.

 

Recente pesquisa científica revelou que pessoas não alfabetizadas possuem um grande espaço de memória para reconhecer rostos. Já as alfabetizadas, e na medida em que aprofundam seus conhecimentos, vão perdendo esta capacidade.

A partir de tais dados os pesquisadores chegaram a várias conclusões. A principal delas é que a nossa tomada do cérebro cresce na medida exata em que cresce nossa participação e manifestação no mundo.

A leitura e a escrita são algumas das ferramentas utilizadas pelas atividades cerebrais. Mas são fatos relativamente novos na espécie humana. Ainda não possuem uma área específica no desenho (ou nas ranhuras) do cérebro. Como a fala, por exemplo, localizada na 3ª circunvolução cerebral. Ocupam espaços esvaziados de outras áreas como o ar a invadir o vácuo.

A capacidade de reconhecer rostos hoje já não é mais possível e nem muito necessária. Travaríamos a memória com tantos rostos que vemos. Encontramos inúmeras pessoas diuturnamente.

Também é preciso levar em conta que as pessoas estão ficando cada vez mais parecidas. Diria até que mais bonitas. É só lembrar nas fotos amareladas de nossos antepassados para perceber. As feições eram grosseiras; a vida era muito mais dura. Raramente se vê alguém que pode ser considerado bonito. Os padrões de beleza atuais exaltam as formas mais alongadas e delicadamente desenhadas.

A moda então, padroniza absolutamente. De 100% das pessoas que passam no Viaduto do Chá, no centro velho de São Paulo, cerca de 70% usam jeans. Os homens chegam a 90%; as mulheres abaixam e chegam a 40% nos horários mais nobres.

Os cortes de cabelo masculino são padronizados ao extremo. Nós homens estão muito semelhantes. Parecemos pinguins de ternos, sapatos e gravatas escuras. As mulheres ainda usam saia no verão. Mas é só bater um friozinho e as ruas se vestem de índigo blue.

O padrão aqui ao compactar diversidades, beneficia a razão e a cultura. Abriu espaço para que utilizemos partes do cérebro com atividades mais nobres, como a leitura e a escrita.

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Luiz Mendes

25/01/2011.

 

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