Espaço pra quê?

Quando vai ao supermercado, o assistente administrativo Renato Merenda, 51 anos, costuma levar a mãe e a sobrinha. Não raras vezes, o trio é reforçado pela companhia de duas cadelas da raça bassê. Uma cena familiar, não fosse o veículo utilizado: um Mini Tupy. Dotado de apenas dois bancos dianteiros e nenhum assento traseiro, o modelo sequer oferece um porta-malas – como é montado sobre o chassi encurtado do Fusca, o Tupy possui o motor na traseira. “Só tem um pequeno espaço ao redor do estepe, sob o capô”, aponta Merenda, que acomoda o que dá no compartimento. “O resto vai no colo”, diz.

Tão raro quanto inusitado, o Mini Tupy surgiu em 1983 concebido pela Tupy Veículos Especiais, extinta empresa paulistana especializada em fabricar bugues. Moldada em fibra de vidro, sua carroceria de linhas exageradamente retas mede parcos 2,63 metros de comprimento, 1,58 metro de largura e 1,46 metro de altura. Dimensões não muito maiores que as de uma bicicleta.

Extremamente leve – é possível empurrá-lo com apenas uma das mãos –, o modelo equipado com a mecânica do Fusca acaba se tornando bastante ágil no trânsito. Além disso, chama a atenção por apresentar soluções criativas, adotadas para baixar custos. As portas não têm maçanetas externas. São abertas por meio de uma cordinha do lado de dentro. Já as janelas laterais, em vez de vidro, são de lonas transparentes, vedadas com zíperes para proteger do frio e da chuva.

Visto hoje como extravagância, o Mini Tupy surgiu como proposta de compacto urbano numa época em que a palavra congestionamento começava a fazer parte do vocabulário do motorista brasileiro. Mas a galopante inflação daquele início dos anos 80 encerrou de forma precoce as atividades no pequeno galpão onde funcionava a linha de produção da empresa.

No fim das contas, o sonho de comercializar um carrinho prático, quase futurista, foi interrompido com apenas quatro unidades concluídas, o que torna atualmente o Mini Tupy uma verdadeira raridade.