Educação e emoção

Tudo o que queremos é que a Trip possa ser um instrumento de educação, no melhor sentido

por Paulo Lima em

Houve um tempo em que misturar a noção de amor com jornalismo pegava mal. Não falo do amor romântico e sensual entre duas pessoas, mas do sentido amplo dessa palavra, de tudo o que essas quatro letras tentam conter, por mais que saibam ser “incontíveis”. De certa forma, quando decidimos dedicar uma edição da Trip a fazer uma espécie de tomografia daquilo que entendemos como educação hoje (e principalmente daquilo que é preciso repensar em relação ao assunto), sabíamos que o nosso jornalismo ia mais uma vez cruzar a via enorme do amor. Mas acho que não tínhamos de fato a dimensão da intensidade dessa ligação/interdependência.

Olhando apenas pelo lado de fora, por exemplo, é difícil imaginar duas pessoas mais diferentes entre si do que a atriz Bruna Lombardi e a educadora Maria Vilani Gomes, mãe do cantor Criolo. Dispensável detalhar como foram diversas as experiências de vida dessas duas mulheres. Mas uma das coisas que aprendemos completando agora os primeiros 25 anos de estudo do comportamento humano nesta Trip é que o que faz a diferença de fato é o que vai da epiderme para dentro. Assim, vejamos o que disseram as duas mulheres para expressar suas visões sobre a educação:

“Nada do que é currículo em escola é fundamental. Você tem de aprender a pensar, e os professores têm de perceber seu ponto de vista, para onde orientar melhor seus dons. Escola deve ser inspiradora, estimular a imaginação, a criatividade e não a repetição, os testes de memória. Educação é amor, amor que se estende a tudo, não só a teu filho ou família. A vida é uma longa lição de humanidade, e a descoberta do amor faz parte disso.”

“Eu sempre fui apaixonada pelo conhecimento. E de certa forma sempre tive esse papel, mesmo em casa. E, se eu não tinha conteúdo para ajudar meus filhos, então tinha que buscar. E eu fiz isso por amor ao conhecimento e por amor aos meus filhos.”

É natural que as mulheres tenham uma compreensão mais ampla do significado do amor e da vida diriam alguns. Não nos parece ser uma questão de gênero. Pelo menos é o que mostram as palavras e as percepções de dezenas de outros, homens e mulheres, que você conhecerá ao longo destas páginas e que chegaram mais ou menos à mesma margem em que o afluente educação desemboca no rio enorme do amor.

É o que move
Coincidências ou fenômenos de sincronicidade são de tal forma recorrentes por aqui que muitas vezes nem sequer são mais notados. Mas, enquanto eu escrevia este editorial, um envelope chegava à minha mesa. Normalmente o teria deixado de lado, para abrir e checar o conteúdo depois. Dessa vez, possivelmente para provocar uma pausa no fluxo do pensamento, parei de escrever para abrir o pacote. Dentro havia um livro. A edição de uma entrevista dada por Marcelo Tas ao jornalista Gilberto Dimenstein. O título: É rindo que se aprende. Já vi pesquisas que provam que um número enorme de pessoas começa a folhear livros e revistas do fim para o começo, mas não me encaixo nesse grupo. Dessa vez, porém, por algum motivo, abri no fim e dei de cara com algumas passagens do depoimento que reproduzo aqui:

“... o que realmente importa é o que vale desde sempre: ter conversas de qualidade... é alcançar realmente o outro. O melhor dessa história toda é uma coisa muito brega, de um ‘filósofo’ chamado Odair José, compositor popular brasileiro: ‘O importante é o verdadeiro amor’. O importante é contar uma história que toque o coração do outro. E aí começamos a interagir. Pode ser pelo Facebook, por meio de um videozinho, filme de 5 ou de 500 milhões de dólares, tudo bem. Mas também pode ser uma conversa.”

“... O que a pessoa leva para o resto de sua vida é o que lhe toca o coração... Se conseguirmos deixar as pessoas motivadas, num estado de paixão, de prazer com o que elas estão fazendo, o tempo fica muito mais gostoso.”

Tudo o que queremos é que a Trip possa ser um instrumento de educação, no melhor sentido. Como explica melhor o próprio Dimenstein, numa de suas intervenções nesse mesmo livro, “... você encontra sentido não só na diversão, mas naquilo que emociona por ter aberto uma possibilidade. Seus aprendizados são motivados pelas emoções. Por isso talvez a educação seja difícil hoje: se não conseguir emocionar de alguma maneira a pessoa, não há aprendizado. Porque a palavra emoção, no latim, significa mover, é o que move”.

Que você se emocione, então...

Paulo Lima, editor

P.S. Impossível falar em educação, saber e amor sem mencionar a quinta edição do Prêmio Trip Transformadores, confirmada para outubro. Veja mais sobre o projeto em www.revistatrip.com.br/transformadores

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