Festa Boa
Seremos, sim, maiores do que a mesquinhez e a tosquice crônicas que insistem em nos assolar
A expressão em inglês “mixed feelings” é uma boa forma de descrever nossos sentimentos por aqui. Estamos ainda sob os efeitos mágicos daquela que para muita gente foi a mais emocionante edição do Prêmio Trip Transformadores. Uma festa feita para celebrar a capacidade gigantesca que o Brasil de fato tem de produzir gente dotada da capacidade de promover a regeneração do tecido social a partir de suas próprias energias vitais.
Mixed feelings porque, se é verdade que estamos vivendo um dos mais escancarados casos de desgoverno da nossa história, um dos maiores escândalos de corrupção jamais flagrados no mundo, um absurdo que consegue arrastar do esporte à religião, passando pelo universo corporativo, pelas instituições financeiras e, claro, pela política, é muito verdade também que nunca esteve tão evidente que somos mais do que isso. E esta festa do Trip Transformadores e todo o movimento que ela simboliza existem exatamente para isso. Para deixar ainda mais claro para quem quiser ver que, seja no esporte, seja na espiritualidade, nas iniciativas empresariais ou na nova concepção do que é política, há por todos os lados brasileiros maiores do que a sordidez e a pobreza de espírito que têm nos envergonhado a cada dia nas páginas dos jornais.
Se por um lado somos incompetentes e ignorantes a ponto de produzir um tsunami de lama assassina num país livre de grandes desastres naturais, somos, de outro lado, capazes de criar e empreender ferramentas de enorme capacidade de construção positiva como as que têm trazido tudo isso a público e encarcerado alguns dos agentes da sujeira. É verdade que os últimos tempos têm sido especialmente pródigos no que diz respeito a destruir esperança e criar frustração no país. Mas, assim como antecipamos aqui, por razões mais técnicas do que premonitórias, muito do que hoje se materializa num processo claro de crise da crença no futuro de nossa sociedade, vamos arriscar mais uma espécie de previsão, nesse caso talvez mais que tudo uma aposta: seremos, sim, maiores do que a mesquinhez e a tosquice crônicas que insistem em nos assolar. Vamos, sim, apelar para que tudo o que vemos não passe de uma intervenção de Shiva, a divindade hinduísta que primeiro destrói para depois reconstruir algo muito melhor sobre os escombros.
E vamos celebrar, sim, não em alucinações coletivas sem sentido, mas com rituais de força e de geração da energia de que vamos precisar para dar a devida dimensão ao que vemos à nossa volta e para evocar aquilo que temos de melhor em nós.
O ano que vem será muitíssimo especial pra gente na Trip. Coincidência ou não, vamos comemorar ao mesmo tempo os 30 anos da empresa e da revista que deu origem a ela, os 15 anos da nossa revista (e hoje uma plataforma digital e impressa) feminina, a Tpm, os dez do Trip Transformadores e os cinco anos da Trip Alemanha.
Estamos felizes e muito motivados para 2016. Também, claro, pelo reconhecimento dos nossos leitores, ouvintes, telespectadores, seguidores e curtidores, que nos fizeram receber há poucas semanas o sexto Prêmio Esso de Jornalismo da nossa história, a mais importante premiação do jornalismo brasileiro,
que há nada menos que 60 anos define um ranking respeitado da produção de comunicação no país.
Que, apesar de toda a calhordice e a pilantragem que conseguimos deixar se alastrar pelas entranhas da nação, possamos fazer de 2016 uma festa. Mais que isso, aquilo que as melhores festas conseguem ser: um rito
de passagem.
Créditos
© The Trustees of the British Museum / CC BY-NC-SA 4.0